Com elas, é mais bolos!
A tradição já não é o que era: os bolos acabados de sair do forno que as nossas mães e avós vendiam às vizinhas do bairro viraram ‘moda’. Os negócios com bolos são uma alternativa a situações de desemprego e de mudança profissional e um exemplo de empreendedorismo com sucesso. A NEGÓCIOS & FRANCHISING conta-lhe várias histórias no feminino que surgiram pelo país, com os olhos postos na inovação.
Texto: Ana Rita Costa l Fotografia: Eduardo Martins
Julie, a ‘americana’
A primeira história que lhe contamos iniciou-se do outro lado do Atlântico. Julie Deffense, fundadora da empresa ‘The Great American Cake’, com atelier em Cascais, começou a experimentar esta arte desde muito cedo no seu país de origem, os EUA, onde aprendeu a cozinhar com a mãe e a avó. Formou-se em Belas Artes, trabalhando primeiro como ilustradora profissional e mais tarde como Web Designer e Designer Gráfica, e em 1998 rumou a Portugal para fazer um trabalho, acabando por aqui ficar.
Já no nosso país, Julie iniciou-se na publicação de conteúdos, tendo sido proprietária das publicações People & Business e CasaTotal, ocupação que lhe dava tempo para experimentar na cozinha. Com tantos amigos e familiares sempre a pedir bolos, inspirou-se e resolveu levar o seu hobbie para outro nível. Em janeiro de 2011, recebeu um diploma do Curso de Mestrado Wilton e em junho do mesmo ano terminou uma licenciatura em Pasta de Flores e Pasta de Açúcar, passando a dedicar-se a este negócio a tempo inteiro.
“Praticamente toda a gente consegue fazer um bolo, mas o que possibilita a entrada neste mercado é a diferenciação na decoração e na qualidade dos bolos oferecidos.”
A sua aposta no Cake Design não se reduz aos bolos personalizados que faz para eventos especiais e para serem fotografados em publicações, e passa também pelos cursos que ministra para aqueles que querem aprender a arte da decoração de bolos. Recentemente, o negócio chegou mais longe com o lançamento do website/loja online “Thegreatamericancake.com”, que para além de ingredientes americanos difíceis de encontrar em Portugal, vende ainda artigos de decoração de bolos, loiça e outros utensílios de várias marcas portuguesas e estrangeiras.
No que diz respeito à evolução do negócio, Julie revela que “o número de clientes tem crescido e evoluído positivamente desde que iniciei a atividade até hoje.” Criar este império não foi fácil, conta, e refere ter investido “muito tempo, paixão e dinheiro. Eu ofereço aos meus clientes bolos personalizados, únicos, de estilo norte-americano, e sou especialista em flores de açúcar. Ainda uso as receitas antigas da minha família, da minha mãe e da minha avó sobretudo, portanto, são totalmente caseiras e feitas com amor.”
Parte deste império dos bolos são os dois livros que escreveu, presentes na maioria das livrarias e hipermercados portugueses, e que em breve vão passar a três. “ Vou lançar o meu terceiro livro antes do verão – o tema ainda é segredo – e já estou a preparar outro livro! Também estou a organizar uma excursão de cake designers portugueses a Chicago, nos EUA, para realizarem o curso Master da Wilton. 2015, e o verão em particular, já está quase preenchido com casamentos e bolos. Depois do verão, estarei a organizar alguns workshops no meu atelier”, confessa.
Alguns especialistas internacionais em negócios defendem que o sucesso destas empresas, ligadas ao Cake Design e à confeção de bolos, deve-se, sobretudo, ao facto de oferecerem um produto simples, que na generalidade é acessível a todos, e que representa investimentos muito baixos.
Na realidade, praticamente toda a gente consegue fazer um bolo, mas o que possibilita a entrada neste mercado é a diferenciação na decoração e na qualidade dos bolos oferecidos. Julie Deffense acredita que para ser bem-sucedido neste campo “o maior desafio é encontrar um equilíbrio entre ser empresário e ao mesmo tempo ser artista. Para mim, é muito importante o lado criativo e estar sempre a inventar e a inovar, mas ao mesmo tempo também é importante gerir a empresa.”
Um antídoto para o desemprego
Mas por vezes, são outros os desafios que levam um empreendedor a ser bem-sucedido numa área nova: uma situação de desemprego e a vontade de lutar. A história de Cláudia Ferreira, detentora da loja ‘Bolos de Cá’, começa assim mesmo, quando em 2012 a empresária caiu no desemprego. Cláudia fazia bolos para os amigos há cerca de cinco anos, por hobbie, mas assim que viu a sua situação profissional mudar radicalmente percebeu que se calhar era altura de dar um passo maior. “Quando saí da empresa onde estava a trabalhar, esta ideia começou a amadurecer e a ganhar alguma realidade”, explica.
O empreendedorismo tem funcionado nos últimos anos como um antídoto para o desemprego. A Comissão Europeia e também os Governos dos Estados-membros têm procurado desenvolver medidas que apoiem estas pessoas, e Portugal, um dos países europeus com uma taxa de desemprego elevada, tem sido um dos mais ativos no apoio ao empreendedorismo e ao autoemprego.
Ainda em janeiro deste ano, o Executivo anunciou que os jovens desempregados entre os 18 e os 30 anos vão poder candidatar-se a apoios do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) para desenvolver projetos e ideias de negócios.
Para Carla, tudo começou por “graça”, conta, mas em agosto de 2013 a responsável pela ‘Bolos de Cá’ decidiu arriscar mais. “Tirei o curso de Cake Designer na Academia Profissional de Cake Design e fui uma das primeiras 17 cake designers certificadas da Europa.”
Mais recentemente, em dezembro de 2014, Cláudia Ferreira abriu finalmente uma loja de doçaria e de acessórios de Cake Design no Pinhal Novo, na zona de Palmela. Para além de confecionar e decorar bolos, bolachas, cupcakes e bombons por encomenda, a loja e a página de Facebook da marca oferecem uma vasta gama de artigos de Cake Design, como pastas de açúcar, cortadores, figuras para bolos de casamento e batizado e formas para queques e cupcakes, para aqueles que querem experimentar a arte. E como se situa estrategicamente em frente de uma escola, o espaço vende também gomas e outros produtos para adoçar a boca dos mais novos.
Para se lançar nesta aventura Cláudia Ferreira investiu cerca de 20 mil euros em obras e material, para os quais não pediu financiamento. Mas em que é que diferem os ‘Bolos de Cá’ dos bolos de uma pastelaria tradicional? “Cada bolo que faço é único. Cada decoração é feita de acordo com o que o cliente nos solicita e cada cliente é um cliente, todos eles muito especiais. Os nossos bolos são projetos únicos, trabalhamos com massas e recheios diferentes e não temos bolos em loja, apenas por encomenda. Fazemos um bolo à medida do cliente”, revela a nova empreendedora.
Quanto a expectativas, revela que a loja “é muito recente, mas temos tido encomendas de quem não nos conhecia e veio até nós através da nossa loja. Temos recebido muitos elogios aos doces de consoada e de fim de ano que confecionámos e isso é maravilhoso. Para 2015 queremos continuar a crescer, pois ainda agora começámos!”
Reunir os melhores bolos da cidade
Carla Contige e Helena Coelho, empresárias responsáveis pela loja ‘Nós é mais Bolos’, no Mercado da Ribeira, em Lisboa, começaram de forma diferente. Sem grande experiência na restauração, estas duas amigas de longa data, Carla, manequim, e Helena, apresentadora de televisão, decidiram pôr à prova a sua paixão por bolos neste espaço.
Carla Contige já tinha posto um pé na restauração com um pequeno ‘quiosque’ de comida vegetariana, o ‘Erva’, contudo, a entrada no negócio dos bolos “começou com um convite da Time Out para estar presente no Mercado da Ribeira com o conceito”, investimento que terá rondado os 20 mil euros. A ideia era reunir “os melhores bolos da cidade de Lisboa e de Portugal num único ponto de venda”, explica a empresária.
A abertura aconteceu no dia 18 de maio de 2014 e registou “ um ‘boom’ muito grande logo de início, que eu acho que se deveu ao facto de estar inserida no mercado, que tinha sido renovado com estes novos espaços e que rapidamente passou a estar na moda”, continua.
“Os melhores exemplos que tenho nesta área são dos meus fornecedores, que são na sua maioria mulheres que já foram advogadas, jornalistas, bancárias e que decidiram investir nesta área e que conseguiram tornar as suas marcas num sucesso porque foram criativas.”
As empreendedoras ainda estão a aprender como funciona o negócio dos bolos: “ainda não conseguimos perceber muito bem este negócio, se funciona melhor no verão ou no inverno…Temos de facto picos ao fim-de-semana, o que é normal, mas também temos alguns durante a semana, assim como temos fins-de-semana mais tranquilos. Por exemplo, no Natal e no Ano Novo também tivemos um pico. Acreditamos que janeiro e fevereiro são meses mais tranquilos, porque as pessoas também estão a sair de uma época com muitas festas e ainda estão a tentar ‘alinhar-se’. Na verdade, ainda não temos um mês de referência que possamos dizer que é o melhor, porque ainda não fizemos um ano, mas quando tivermos esses resultados já vai ser possível analisar melhor o que se passou no ano passado para ver o que pode acontecer este ano.”
O espaço em que está inserida a loja, no Mercado da Ribeira, é uma aposta da Time Out, que reconverteu o espaço e procurou reunir ali várias marcas representativas de Portugal. O conceito tem sido um sucesso e funciona, para as empresárias, como “uma vantagem muito grande, porque todos os estrangeiros que visitam Lisboa vêm aqui conhecer o Mercado da Ribeira.”
Até agora, a ‘Nós é mais Bolos’ está a evoluir bem, mas todos os dias são dias de tentar conseguir fazer mais e melhor para quem está à frente da ideia. “Estamos sempre à procura de novas empresas para fazer parcerias e elas também vêm ter connosco. Recebemos muitas visitas de fornecedores que vêm aqui mostrar-nos e dar-nos a provar receitas de novos bolos que acham que podiam ser vendáveis aqui, e eu estou sempre, claramente, disponível para trabalhar com eles. Nós tentamos trabalhar diretamente com fornecedores pequenos, que no fundo não são fábricas, porque queremos reunir os bolos daquelas pessoas que ainda têm a receita da avó e da mãe, por isso é que os nossos bolos têm este ar caseiro”, revela Carla Contige.
A loja ainda não tem uma marca própria de bolos, mas tem uma chef pasteleira que já criou para venda em exclusivo no espaço o ‘bolo de chocolate de três camadas’, uma ‘mousse de chocolate’ e um ‘tiramisu com tortas de azeitão embebidas em Moscatel de Setúbal’. Para além destes e de outros bolos que têm lugar no ponto de venda, a ‘Nós é mais Bolos’ distribui ainda em exclusivo o ‘Melhor Pão-de-ló do Universo’, que é feito de forma tradicional em Castelo de Paiva, e ‘O Bolo da Marta’.
As empresárias estão felizes com a aposta que fizeram e Carla revela que “adoro a área da restauração, vim de uma área completamente diferente, mas quando entrei na restauração apaixonei-me completamente. É, no entanto, uma área dá muito trabalho, e as pessoas às vezes não têm noção do que é preciso para ter um negócio próprio, porque acaba por ser como se fosse um filho, depende de nós a qualquer momento…e quando é um negócio como este, que está aberto todos os dias, há muita coisa que depende da pessoa que estiver à frente.”
Àqueles que se quiserem ‘atirar’ para esta área, aconselha a serem “criativos” e a “tentarem perceber o que é que ainda não existe. Neste negócio dos bolos isso é especialmente importante. Hoje em dia há muita gente que quer ter um negócio, ou porque está sem emprego ou porque não sabe bem o que quer fazer, e depois perde-se nas suas próprias ideias. Os melhores exemplos que tenho nesta área são dos meus fornecedores, que são na sua maioria mulheres que já foram advogadas, jornalistas, bancárias e que decidiram investir nesta área e que conseguiram tornar as suas marcas num sucesso porque foram criativas.”
2015 ainda não tem muitos planos concretos traçados, só sonhos e expectativas: “quando abrimos esta loja achámos que o conceito era tão giro e tão inovador que pensámos logo em abrir outra e essa ideia ficou sempre um bocado no ar e tentámos que as coisas se proporcionassem, mas não se proporcionou ainda. Pode ser que seja em 2015…”, conclui.
A ‘irmandade’ dos cupcakes
Fomos também à descoberta da Tease, loja conhecida pelos cupcakes que abriu em 2009 no Bairro Alto, mas cuja necessidade de expansão e evolução a levou à Praça das Flores, junto ao Príncipe Real, em Lisboa.
Alavancado por duas irmãs, Sónia Cardoso, arquiteta, e Ana Cardoso, psicóloga, o negócio demorou três anos a estar de pé e surgiu de uma paixão de crianças. Quem entra naquela porta sente essa paixão no espaço vintage a média luz, com florões antigos nos bules de chá e uma montra de bolos deliciosa. Ana e Sónia aprenderam tudo sozinhas e juntavam-se tardes inteiras a experimentar e a responder a encomendas feitas online. E foi isso que as fez perceber que tinham vocação.
“No nosso país também não é fácil ter um negócio, principalmente na área da restauração. Infelizmente não chega ter iniciativa, mas é importante não desistir. Nós não desistimos e gostamos de arriscar, não temos receio disso.”
“Quando começámos, o nosso conceito era totalmente focado nos bolos e neste tipo de pastelaria, que na altura não havia em Lisboa. Sempre quisemos ter um espaço descontraído, tipo cafetaria, mas a nossa ambição não era fazer disto vida, no entanto as coisas acabaram por se proporcionar de uma forma que não estávamos à espera. A loja do Bairro Alto foi um sucesso ao início. Depois começámos a ver que éramos muito associados só aos cupcakes, o que junto dos clientes portugueses podia ser um problema, por isso começámos a vender outras coisas, como tostas, saladas, cocktails…Entretanto decidimos sair de lá, porque a logística não era fácil, uma vez que a loja era pequena e não tínhamos cozinha”, explica Ana Cardoso, uma das fundadoras que acabou por fazer da Tease o seu emprego a tempo inteiro.
Daí foram para a Praça das Flores, zona lisboeta que, segundo a empresária, leva até à loja um público “completamente diferente. Esta loja está muito mais adaptada ao nosso conceito, até porque não nos queremos desligar completamente dos cupcakes, porque somos nós, e porque queremos experimentar fazer muito mais coisas, e aqui neste espaço temos essa oportunidade.”
O investimento no novo espaço “está a correr bastante bem. É completamente diferente, porque esta zona é muito mais bairrista e temos muitos clientes já fidelizados, que vêm todos os dias, uma coisa que no espaço do Bairro Alto não havia, porque era uma clientela mais à base de turistas e de pessoas que só voltavam ao fim de semana ou uma vez por mês. Aqui já conhecemos as pessoas, porque vêm tomar o pequeno-almoço e já criaram uma rotina de aqui vir.”
Mas todos os negócios enfrentam obstáculos, e para Ana Cardoso o mais difícil de ultrapassar foram todas as burocracias a que está associado o facto de ter uma empresa. “Isso é o maior stress, depois há também o facto de termos outro nível de responsabilidade, mas isso acaba por ser positivo. Quando se tem um negócio próprio é impossível chegar a casa e desligar, a cabeça está sempre aqui e isso é cansativo, mas é impossível ser de outra forma. Para além disso, no nosso país também não é fácil ter um negócio, principalmente na área da restauração. Infelizmente não chega ter iniciativa, mas é importante não desistir. Nós não desistimos e gostamos de arriscar, não temos receio disso.”
Para 2015, têm como objetivo estabelecerem-se no novo espaço e criarem produtos que “funcionem”. O crescimento da marca, e quiçá a abertura de outras lojas, também é uma meta, “até porque gostávamos de colocar mais família a trabalhar connosco. Acho que temos potencial para tornar a nossa produção numa coisa de maior dimensão. Gostávamos de crescer nesse sentido.”
Quando o bolo é uma festa
A Peace of Cake Design, um exemplo mais a Norte do país, no Porto, é claramente uma das mais dinâmicas. O ADN da marca não é feito apenas de bolos e vive também do planeamento de festas e outros eventos. Mariana Carvalho, Designer Multimédia que ainda exerce a profissão em part-time, personifica o ideal do bom empreendedor. Para além de se ter aventurado nos doces, a empresária aproveitou as suas competências para alargar os serviços da marca e cria todo o material gráfico e a decoração dos espaços para as festas para as quais a contratam.
“A Peace of Cake Design nasceu em 2010, numa altura em que começavam a ficar famosos em Portugal os cupcakes, e da necessidade de me expressar criativamente noutro campo que não o meu. Trabalhava a full time na altura, mas não era suficiente para mim, quer em termos monetários, quer criativos. Assim, em jeito de hobbie decidi criar a Peace of Cake Design. A resposta das pessoas foi ótima e rapidamente percebi que tinha aqui uma oportunidade de sucesso. Sempre fui apaixonada por estes mini bolinhos, e vi aqui uma oportunidade de me dedicar a algo que unia a minha paixão por doces e design, área que continuo a exercer diariamente. Assim foi, primeiro os amigos e rapidamente desconhecidos começaram a encomendar e o meu hobbie passou a negócio. Alguns meses depois, dos cupcakes passei aos bolos e finalmente, ao party planning”, revela à NEGÓCIOS & FRANCHISING.
O investimento feito, já não sabe precisar, mas garante que valeu a pena. “Os nossos bolos são completamente diferentes do típico bolo de pastelaria. Usamos apenas ingrediente naturais – não usamos aromas nem conservantes – e as receitas são caseiras, as mesmas usadas na família há várias gerações. Em termos de Design, nota-se também uma clara diferença de outros bolos que encontramos no mercado. Temos um estilo próprio, uma assinatura, que os clientes já reconhecem como nossa.”
Quanto a dificuldades, confessa-nos que “a incerteza é a maior” delas. “Nesta fase já tenho alguns clientes fiéis, que me acompanham há três ou quatro anos, mas nunca sabemos que encomendas vamos ter. Há meses melhores, outros menos bons…é importante saber gerir esses fatores.”
Para aqueles que querem arriscar, Mariana explica que é importante “que se invista nesta área, como em todas as outras, apenas quando se tem uma verdadeira paixão pela mesma, e claro, algum jeito. Muita gente inicia atividade em Cake Design porque financeiramente não exige um investimento inicial muito grande – à partida já possuem um cozinha com forno e batedeira – o que gera muita oferta por vezes com menos qualidade do que deveria. Acima de tudo, acho importante que criem um estilo próprio e tragam algo novo.”
Atualmente, a marca funciona exclusivamente online, através do Facebook e de um blog, mas em 2015 deverão surgir “ novos produtos e sabores e quem sabe a abertura de um atelier que me possibilite um contacto mais direto com os clientes, quebrando a barreira das redes sociais… Sonhar ainda é de graça!”
De ‘suspirar’ por mais
Mas se uns apostam no design e na criação de grandes obras artísticas, outros há que preferem a simplicidade. Formada em Comunicação, Marta Gonçalves, com 26 anos e detentora da marca ‘O Bolo da Marta’, é um desses casos e começou por fazer os seus bolos de base de suspiro porque os seus amigos lhe pediam. Rapidamente, aquilo que era só um passatempo tornou-se num negócio rentável. A empreendedora faz parte daquela geração de jovens empresários que viram no Facebook uma boa plataforma de venda e comunicação e que aí escolheram iniciar o caminho no mundo dos negócios.
De acordo com um estudo da Deloitte recentemente publicado, o Facebook teve em 2014 um impacto positivo de 196 mil milhões de euros na economia mundial, devendo ter gerado só no ano passado 4,5 milhões de empregos.
A página de Marta “surgiu sem qualquer pretensão de se tornar num negócio sério, no entanto as encomendas começaram a chover”, explica. ‘O Bolo da Marta’ começou na sua casa com as ferramentas que tinha, imaginação e vontade de experimentar, mas o passa a palavra dos amigos e o aumento das encomendas no Facebook levaram Marta a abrir em 2012 um espaço de venda na livraria Ler Devagar, na LX Factory, em Lisboa.
“Nunca fiz nenhum curso de Pastelaria nem de Cozinha. Estudei Comunicação Social e trabalhei durante um ano na área, no entanto não era um trabalho que me preenchesse. Sempre gostei de cozinhar e gosto muito de inventar na cozinha e sempre fiz sobremesas para levar para festas de amigos. Na altura em que deixei de trabalhar, porque ia começar a estudar outra vez, como tinha mais tempo livre comecei a fazer este bolo para todos os jantares onde ia. Foi aí que começaram a chegar as encomendas e os pedidos para criar uma plataforma onde pudessem ver o bolo e os meus contactos para fazerem encomendas e partilharem com os amigos. Na altura, há cerca de três anos, ainda não havia tantos negócios no Facebook como há hoje em dia. Houve uma grande evolução desde que criei a página. Como tinha formação em Comunicação, o meu trabalho a gerir a página não era muito diferente do que trabalhar em qualquer departamento de comunicação e, apesar de ter surgido tudo muito por acaso, comecei a perceber que gostava dos vários lados do negócio -cozinhar, comunicar e gerir- e é isso que me mantém até hoje com vontade de continuar e de evoluir cada vez mais”, conta Marta.
“O investimento inicial foi mínimo. Comprei um forno industrial e alguns acessórios de cozinha, montei a empresa com um capital social de 1000 euros e comecei a pagar a renda da loja. Neste momento já temos uma cozinha industrial para além da loja”, continua.
Os bolos da Marta têm todos uma base de suspiro, mas a lista de coberturas é infindável: doce de ovos, natas e fruta, nutella, brigadeiro…E é esta variedade que faz os clientes voltar. “O número de clientes tem sempre vindo a aumentar e mesmo passados três anos ainda há muitas pessoas que não conhecem a marca, por isso ainda temos um grande mercado para alcançar”, refere Marta Gonçalves que explica também que a comunicação da marca é feita através do Facebook e do “boca a boca”, uma vez que “sempre que vendemos um bolo para um aniversário, por exemplo, ganhamos novos clientes que nos encomendam um bolo igual ao que provaram nesse evento.”
As dificuldades na implementação da marca, conta, “não foram grandes. Se calhar até tive algumas, mas eu sou muito otimista, às vezes até demais, e acho sempre que as dificuldades no negócio me ajudam a criar alternativas para superá-las. Por vezes, essas dificuldades até vieram em boa altura, para perceber que tenho de estar sempre um passo à frente dos outros. Claro que não estou a falar duma dificuldade que me impeça de continuar, mas se estiver sempre tudo bem acomodamo-nos e como não temos necessidade de fazer nada para nos superarmos entramos numa rotina perigosa e pouco criativa.”
E se alguns não veem com bons olhos e chegam a temer a concorrência, Marta acredita que é esta que torna um negócio mais forte. “Um ano depois de ter iniciado o negócio no Facebook começaram a surgir muitas outras páginas e negócios idênticos, e se no início me assustou, depois tornou-me mais forte porque tive de inovar, ter uma comunicação mais agressiva e criar produtos diferenciadores. Acho que foi a maior dificuldade, mas hoje em dia já a ultrapassei e percebi que uma concorrência saudável é importante para manter a criatividade.”
“Acho sempre que as dificuldades no negócio me ajudam a criar alternativas para superá-las. (…) Claro que não estou a falar de uma dificuldade que me impeça de continuar, mas se estiver sempre tudo bem acomodamo-nos e como não temos necessidade de fazer nada para nos superarmos entramos numa rotina perigosa e pouco criativa.”
Apesar dos conselhos de amigos e clientes, a aposta de ‘O Bolo da Marta’ vai continuar a ser nos bolos com base de suspiro com vários toppings. “Já me disseram várias vezes para fazer outros bolos ou tostas, como nas outras pastelarias, mas não é isso que quero para a marca. Nós vendemos um bolo que pode ser consumido de várias formas e com várias coberturas e o cliente que nos procura sabe disso e só vai à nossa loja porque gosta dos nossos bolos e sabe que, mesmo só tendo um bolo, pode ser sempre surpreendido porque todos os dias temos sabores diferentes. Pode ser que um dia mude de ideias, mas neste momento acho que não faz sentido. Por isso é que não lhe chamo pastelaria, mas sim loja, porque só vende um produto duma marca.”
Para além de estarem na LX Factory, os bolos da Marta também podem ser comprados na ‘Nós é Mais Bolos’ e no ‘Santini’ do Chiado e em 2015 “esperamos concretizar mais parcerias de sucesso que nos possibilitem estarmos em mais locais e mais perto do cliente.”
Mãos na massa
E se algum dia se aventurar no Facebook para procurar este grupo de empresários que fizeram dos bolos negócio, é muito provável que se cruze com ‘A Festa do Bolo’, empresa criada por Sílvia Ferreira, profissional que largou as Telecomunicações quando decidiu que queria criar “bolos artísticos, personalizados para cada cliente.”
“A Festa do Bolo nasceu com o primeiro aniversário do meu filho, em 2007. Queria muito que ele tivesse um bolo diferente daqueles que encontramos nas pastelarias. Queria um bolo com magia e que marcasse de alguma forma esse momento único e tão especial. Descobri o Cake Design nessa altura e, como sempre gostei de artes e tendo já alguma experiência a nível de escultura e de manuseamento do fimmo, decidi eu própria colocar as mãos na massa e criar um bolo para o meu filho. E assim foi. Fiz o bolo e adorei! A partir desse dia surgiram várias encomendas de amigos, família e de pessoas que estiveram em festas onde havia um bolo da Festa do Bolo”, conta-nos.
Ao falar-nos dos seus bolos, Sílvia revela o mesmo que as outras empresárias com quem falámos: “são bolos totalmente caseiros, bolos que temos na memória e que só as nossas avós faziam com aquele cheirinho que nos conforta a alma e o coração.”
O negócio funciona exclusivamente no Facebook e no seu website, onde é possível encomendar os bolos para festas e outros eventos especiais, mas também se estende aos workshops onde “ensino tudo o que precisa saber quem, depois, queira criar também os seus próprios bolos.”
Quanto ao investimento, explica que “inicialmente não investi muito. Comprei apenas os materiais base para começar: um rolo, um alisador…Comprava aos poucos, consoante ia precisando. Quando comecei não havia em Portugal as lojas que existem hoje a dedicarem-se a esta área, a única que existia tinha muito pouca coisa a nível de materiais. Com o crescimento do cake design em Portugal, a mesma loja começou a ter cada vez mais materiais.”
Para Sílvia Ferreira, “é essencial aprendermos as várias técnicas para podermos evoluir. Esta é uma área sempre em expansão e onde tudo é muito caro: os materiais, os workshops, etc. É necessário investir ao longo do tempo algum dinheiro em formação e em materiais, que são muitos!”
2015 e 2016 deverão ser anos grandes para esta empreendedora que sonha “publicar o meu primeiro livro e lançar uma nova tipologia de workshops. Contudo, e embora tudo já esteja a ser desenvolvido, ainda está no segredo dos Deuses.”
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