Na minha geração, aqueles que nasceram com a revolução, fomos incentivados a estudar e tirar cursos superiores para poder ter uma vida melhor. E por vida melhor entendia-se ter um emprego bem remunerado e de preferência estável.
Entrámos no mercado de trabalho nos dourados anos ‘90, quando o país rejubilava com a Expo’98 e com o nobel de Saramago. Quando até parecia que éramos um país moderno e desenvolvido e com uma economia pujante. Não era nada assim, bem sabemos, mas parecia mesmo. E o facto é que, os da minha geração, estão na sua maioria empregados e com uma relativa estabilidade.
Na geração seguinte, sobre a qual ainda se teoriza se seria rasca ou estaria à rasca, o cenário mudou radicalmente. Bem preparados academicamente, estes jovens que tratam a tecnologia por tu e falam inglês desde o berço, aterraram num mercado de trabalho sem grandes, ou mesmo nenhumas, expetativas. Para o seu nível de habilitações oferecem-se agora parcas remunerações a troco de um recibo de cor verde e uma classificação técnica de ‘precário’. A alternativa é aceitar um trabalho não qualificado que, não envergonhando ninguém, é desmotivador para jovens com tantas qualificações e com ambição.
E é aqui que entra uma nova onda de empreendedores. De gente que tem ideias, que procura necessidades no mercado e que cria negócios para tirar partido destas oportunidades.
Esta é a geração mais portuguesa de todas. A que encarna o espírito aventureiro que andava perdido há 500 anos. A que não tem medo de arriscar, arriscando com cálculo e método. A que vai à luta porque acredita que não há outra forma de viver. Gente que é capaz de dar a volta à adversidade, de construir projetos, de concretizá-los, com entusiasmo, com criatividade, com vontade de vencer. Gente que pode falhar mas que vai voltar a tentar. É este este espírito que está a fazer a diferença.
Sazonais, ambulantes, arrojados ou tradicionais, estes novos micros e pequenos negócios estão a dar vida e força ao tecido empresarial. É desta gente que nos orgulharmos.