A escolha do ponto ideal para instalar uma unidade franchisada é, há décadas, uma das decisões mais determinantes para o sucesso — ou fracasso — de qualquer franchisado. Um conceito excelente pode falhar se estiver “escondido”; já uma proposta apenas razoável prospera quando implantada onde o público-alvo verdadeiramente passa, pára e compra. Para evitar erros dispendiosos, reunimos os seis fatores e dicas que deve avaliar antes de assinar o contrato de arrendamento. Pense neles como peças de um puzzle: só com todas encaixadas é que garantirá vendas consistentes e rentabilidade de longo prazo.
Demografia: esteja onde o seu cliente vive (e gasta)
Mesmo que o franchisador lhe tenha atribuído uma zona de exclusividade, dentro dessa área existem “zonas” demográficos muito distintas. Quantas famílias residem num raio de cinco minutos? Qual é o rendimento médio disponível? O bairro é dominado por estudantes, reformados ou jovens profissionais? Quanto menor a distância física e socioeconómica entre a sua proposta e o perfil-alvo, maior a probabilidade de conversão espontânea.
Hoje, ferramentas de inteligência geográfica acedem a dados censitários cruzados com tráfego, poder de compra e hábitos de consumo. O investimento numa subscrição anual é irrisório face ao custo global de abrir uma loja; use esses relatórios para comparar potenciais moradas e escolher aquela que concentra o maior número de consumidores “perfeitos” para a marca.
Visibilidade: poupe em marketing mostrando-se melhor
Uma fachada bem posicionada equivale a publicidade gratuita, 24 horas por dia. Se a montra está virada para uma artéria com elevada circulação pedonal e automóvel — e permite letreiros luminosos ou bandeirolas — o orçamento mensal em publicidade digital pode ser drasticamente reduzido. Avalie se existem obstáculos visuais (árvores, paragens de autocarro, contentores de lixo) que tapem o logótipo. Verifique ainda os regulamentos municipais sobre reclames luminosos ou estruturas salientes, pois certos centros históricos impõem restrições que limitam formatos ou até cores.
Acessibilidade: facilitar a entrada, a saída… e o estacionamento
Visibilidade sem acessibilidade gera frustração. Os clientes de hoje valorizam a conveniência: se tiverem de dar duas voltas ao quarteirão para encontrar lugar, procuram alternativa. Se a sua cafetaria depende de fluxo matinal, prefira instalar-se do lado da faixa de rodagem que leva os condutores para o emprego; assim podem parar, comprar e seguir viagem sem manobras arriscadas. Igualmente importante é o estacionamento: informe-se junto dos vizinhos sobre horários de maior lotação de um parque partilhado. O objetivo é assegurar que, nos picos da procura, há sempre uma vaga disponível para eles poderem estacionar.
Dimensões: espaço certo hoje, potencial de crescimento amanhã
Uma localização aparentemente perfeita deixa de o ser se não couber dentro dela. Confirme a metragem mínima recomendada pelo franchisador para zona de atendimento, stock, balcão, instalações sanitárias e, quando aplicável, cozinha ou laboratório. Verifique o pé-direito (útil para chaminés, expositores ou sistemas de climatização) e avalie a possibilidade de expansão futura: um armazém anexável, mais esplanada ou a criação de uma mezzanine podem adiar durante anos a necessidade de abrir uma segunda loja.
Termos de arrendamento: renda, carência e obras
A renda não deve apenas encaixar no “Excel” de arranque; tem de ser sustentável durante as épocas baixas. Negocie um período de carência que cubra obras de adaptação e formação de equipa. Esclareça quem suporta as benfeitorias: algumas senhorias comparticipam, outras exigem devolução em “estado bruto”. Analise cláusulas de atualização anual (indexadas a inflação?) e de saída antecipada. Se necessário, recorra a um advogado especializado em imobiliário comercial para garantir que o contrato protege a viabilidade financeira da unidade franchisada.
Mix comercial envolvente: vizinhança que atrai (ou afasta) clientes
O melhor tráfego é o que já chega predisposto a comprar. Uma loja de artigos gourmet beneficia de ter por perto um supermercado premium, uma garrafeira ou um ginásio de segmento alto — juntos criam sinergias que elevam o ticket médio. Pelo contrário, excesso de concorrentes diretos ou vizinhos com imagem degradada confundem o posicionamento da marca. Visite o local em dias e horários diferentes; observe quem circula, quantos sacos de compras carrega e quais os picos de movimento real.
Uma localização acertada, meio caminho andado para o sucesso da unidade
Analisar estes seis fatores exige pesquisa de mercado, visitas de campo e, sobretudo, disciplina para recusar “oportunidades” que falhem num critério vital. A recompensa é clara: menor dependência de publicidade paga, maior fidelização e crescimento orgânico das vendas. Se planeia abrir uma unidade franchisada, inicie já o seu estudo de localizações e utilize ferramentas de dados demográficos para sustentar a sua decisão.
Cristina Matos é CEO da APF – Associação Portuguesa de Franchising. Lidera o projeto do Infofranchising, com muitos anos de experiência na área de franquias e negócios, garantindo uma visão estratégica sólida e inovadora.
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