Empresas portuguesas trazem sustentabilidade à cidade de Lisboa
É um edifício cor de rosa mas no interior respiram-se ideias verdes e promovem-se negócios sustentáveis. O polo eco-lifestyle de Lisboa chegou em março ao Lx Factory e trouxe uma resposta à cidade para todos aqueles que procuram alternativas biológicas e ecológicas. Já conhece?
Ir ao LxFactory é sempre um bom motivo de reportagem. É que os repórteres sabem que é provável que encontrem novidades, lojas originais e fora do comum, nas mais variadas áreas. A NEGÓCIOS & FRANCHISING não quis ficar atrás e foi conhecer o polo de eco-lifestyle, inaugurado em março deste ano, e que integra conceitos 100% portugueses que trazem sustentabilidade à cidade de Lisboa. As marcas “The Therapist”, “Organii Concept Store&Day SPA” e “Boa Safra” partilham de uma linguagem comum e juntaram ingredientes essenciais para novas apostas: vontade, oferta de serviços diferenciadores, comercialização de produtos sustentáveis, ecológicos, e tanto quanto possível, de origem biológica.
Apesar de serem negócios independentes, a ideia é trabalhar em sinergia. Estão localizados no mesmo edifício do Lx Factory, e partilham da missão de tornar o mundo um sítio melhor através da resposta a quem procura um estilo de vida mais saudável.
É o ano de arranque para a clínica “The Therapist” fundada por Joana Teixeira. Aos 31 anos, decidiu mudar de vida, deixando para trás uma carreira de gestora de marcas em multinacionais. Há cerca de sete anos, Joana começou a ter um problema de pele, apesar de não ter tido qualquer sintoma durante a adolescência. Como não encontrou resolução na Medicina Convencional, e depois de recorrer a vários dermatologistas, procurou ajuda na Medicina Chinesa. Daqui à mudança de alimentação foi um pequeno passo. O interesse pelas terapias alternativas foi aumentando até que Joana percebeu que faltava “um espaço que reunisse a maior parte de terapias dentro desta área”. Começou a pensar mais a sério no assunto até que surgiu a oportunidade de ocupar uma loja que ia ficar vaga no LxFactory. “A Câmara Municipal da Lisboa está a desenvolver uma parceria com a Mainside que é a empresa que explora a Lx Factory, com o objetivo de devolver a vida aos edifícios”, explica Joana.
O último ficheiro de Excel que encontrou data de 2011, altura em que tinha já um plano de negócios para aquilo que vislumbrava ser o projeto que agora inaugurou. “Não tinha nome nem localização”. Já tem e também já recebe clientes assíduos, que voltam e passam a palavra.
Diz-nos que o investimento “não foi significativo” e não avança com números. “O espaço já existia e investimos mais ao nível de materiais. Criamos também o mínimo desperdício. Os móveis da clínica são antigos e foram reaproveitados, exceto as marquesas de tratamento”, diz. O “The Therapist” oferece três vertentes que a fundadora assume como vitais para o bem-estar: “as Medicinas Chinesas (Terapia Quântica; Naturopatia; Medicina Chinesa; Ayurveda; Homeopatia; Nutrição; Biblioterapia); a Escola da Vida e a Alimentação”. A Biblioterapia é feita em parceria com a Ler Devagar, situada no Lx Factory. “Temos um biblioterapeuta que prescreve livros ou passagens de livros para determinadas terapias”.
As pessoas ainda têm algum estigma em relação às opções vegetarianas pelo que oferecemos dois pratos vegetarianos, e um terceiro, que inclui proteína animal, o que acaba por ser adequado para famílias com diferentes opções.”
A Escola da Vida tem como objetivo realizar workshops dos mais variados temas. Já no que respeita à alimentação, há uma postura flexível que ajuda a delinear opções. “Não somos fundamentalistas. No começo da minha mudança alimentar, fui muito dura, e percebi que já não estava bem. Queremos tornar isto como uma forma de bem-estar e não uma dieta. As pessoas ainda têm algum estigma em relação às opções vegetarianas pelo que oferecemos dois pratos vegetarianos, e um terceiro, que inclui proteína animal, o que acaba por ser adequado para famílias com diferentes opções. Já nos aconteceu recebermos pessoas com mitos em relação à alimentação vegetariana e que experimentaram e adoraram. É uma forma de dar a conhecer outras alternativas”, diz.
Servem almoços e lanches, tendo iniciado a opção de brunch aos Domingos, desde meados de maio. “Todos os nossos produtos são biológicos, temos alguns fornecedores que fazem entrega direta (como a Provida e a Biofrade, por exemplo). A ideia passa ainda por trabalhar, o máximo possível, em parceria com os colegas e lojistas do Lx Factory.
Ano de arranque
Joana Teixeira faz um “balanço positivo” da estadia e da forma como decorre o negócio. “Já temos clientes regulares. As pessoas estão cada vez mais despertas para este lado saudável e para a importância da alimentação nas suas vidas. Ficam também muito satisfeitas por estarmos aqui até porque somos a primeira opção vegan da Lx Factory. Temos também clientes de passagem que questionam e que são potenciais clientes. Muitas vezes, também aconselhamos lojas no país de origem quando conhecemos alguma oferta. Depois, temos o cliente português ou estrangeiro que vive em Portugal, que é assíduo, vai, volta, passa a palavra e traz a família e amigos”.
Ao nível das consultas, os resultados não podiam ser melhores. “Algo muito interessante para nós é a taxa de repetição de 100% de todas as pessoas que nos procuraram uma primeira vez para terapias e consultas. Recebemos pessoas com problemas variados, não só ao nível físico, como também emocional”, explica Joana Teixeira.
No “The Therapist”, trabalham sete pessoas em part-time uma vez que os colaboradores intercalam este trabalho com outros interesses e atividades. Além disso, a clínica conta com aproximadamente dez terapeutas em prestação de serviços.
Este é um ano de arranque. A fundadora não espera ter um retorno de investimento tão cedo. “No mínimo, virá daqui a cinco anos” e garante “que este não é um projeto em que esteja para ganhar dinheiro. Quero que seja sustentável a longo prazo e quero continuar por muitos anos. Não temos acionistas, o que representa uma menor pressão. Pelo balanço destes dois meses, acredito que este é um projeto que vai ter continuidade e irá crescer”, explica.
No futuro, não descarta a hipótese de ter outras clínicas abertas. Para já, Joana está a explorar outra área ligada ao “The Therapist”: eventos e reuniões de empresas, tendo ainda uma parceria com uma empresa que certifica formações.
“Termos começado o negócio em crise deu-nos a clara perceção de que como é possível viver com pouco income e de como é que se faz uma estrutura que possa ser adaptativa para que nada falte conseguindo corresponder com o pouco dinheiro que está a entrar.”
Também foi um problema de pele que levou as irmãs Rita Curica e Cátia Curica a apostar nesta área. A pele de ambas é bastante reativa e sensível. “A Cátia, que é farmacêutica, foi percebendo que muitas das reações e intolerâncias que tínhamos se deviam em grande parte a elementos da formulação sintética existente nos cosméticos convencionais. A partir daí, fomos procurando produtos isentos dessas substâncias, essencialmente lá fora, e fomos descobrindo, dentro da cosmética biológica, produtos maravilhosos, inicialmente para uso pessoal e depois no crescimento da Organii, para o nosso público”.
Da cosmética à puericultura
A partir de 2009, as irmãs e também fundadoras da Organii começaram a abrir lojas de cosmética biológica. “Abrimos em 2009, no Chiado; em 2010, aqui no Lx Factory e abrimos também uma loja no Porto nesse ano. Estávamos bem assim, era o nosso caminho e estávamos a gostar muito do contacto com o público”. Em 2011, teve início a loja online, em plena época de conjuntura económica difícil. “Termos começado o negócio em crise deu-nos a clara perceção de que como é possível viver com pouco income e de como é que se faz uma estrutura que possa ser adaptativa para que nada falte conseguindo corresponder com o pouco dinheiro que está a entrar. Para nós, como vivemos a realidade da crise e nunca tivemos contacto com o facto de montar um negócio antes, trabalhámos nesta base. É isto que temos e é com isto que trabalhamos. É com este income que vamos conseguir crescer. Se conseguimos crescer exponencialmente? Claro que não”.
Dois anos depois, nasce o primeiro filho de Cátia, Benjamim, e com ele, a dificuldade em adquirir alguns produtos de bebé. Havia respostas biológicas em lojas online mas não chegavam. “Era mãe de primeira vez e era muito difícil comprar com as medidas standard das lojas online e sem experimentar”, explica Cátia. Foi então que as irmãs começaram a pensar que este poderia ser um problema para pessoas como elas, com filhos, e que gostariam de escolher alternativas biológicas mais perto e não apenas online. Em 2013, chegou o convite por parte da Embaixada, em Lisboa, para aproveitarem espaços e abrirem novas lojas. E assim foi. “Achámos então que estava na hora de ter uma loja de cosmética que permitisse ter um SPA (que foi também o primeiro) e uma loja de bebé onde pudéssemos ter um pouco deste universo da puericultura ecológica. Quando a Embaixada nos fez o convite, fê-lo pela cosmética e para a Organii. Falámos com a Boa Safra, fomos ver os espaços, negociámos e ficámos com aqueles espaços”. A Organii e a Boa Safra começam então esta viagem de parceria que entretanto se prolongou para este polo de eco-lifestyle, no LxFactory.
“Correu muito bem, foram projetos bem aceites, o SPA permite que as pessoas experimentem os produtos nos próprios tratamentos e que possam usufruir dos mesmos. Muitos dos nossos clientes só usam shampoos, gel de banho, cremes da Organii mas depois vão arranjar as unhas e os produtos que são usados têm químicos ou fazem uma limpeza facial com óleos cheios de petróleo. As próprias pessoas pediam-nos um SPA para fazer tratamentos com óleos simples e biológicos”, explica Cátia que devido ao facto de ser farmacêutica, que tem como responsabilidade as questões legais dos produtos, por parte do Infarmed, percebendo se o produto é bom ou não.
Aos poucos, a loja do LxFactory foi tendo alguns produtos de puericultura e algumas respostas para bebés. No entanto, os pedidos que chegavam não acompanhavam o espaço disponível.
Após procura de lojas em vários locais, e sem sucesso, realizaram o primeiro Eco-Market, um evento aberto ao público com demonstrações relacionadas com o Mercado Biológico, em dezembro do ano passado no LxFactory, com a presença de dez mil visitantes. “Convidámos imensas pessoas, gostámos muito de conhecer marcas portuguesas que partilhavam dos nossos valores e preocupações. Começámos a pensar que na próxima loja que tivéssemos, faríamos uma concept store, onde estas marcas pudessem ter espaço e funcionar como mostra ao público, porque muitas vezes, são projetos pequenos e sem lojas próprias. Funcionaríamos como uma montra onde as pessoas pudessem expor os seus produtos dando a conhecê-los ao público”. E assim foi. Quando surgiu o convite para integrarem este polo de eco-lifestyle, estava dado o mote para este projeto. “A Joana do ‘The Therapist’ já estava interessada mas não ia ocupar o espaço todo, viemos conhecê-la e percebemos logo que tudo isto iria encaixar bem e funcionar. Falámos também com a Boa Safra que já era nosso parceiro na Embaixada e surgiu aqui como parceiro natural para este projeto. Damo-nos bem com a administração, já nos conhecemos, sabemos como é que as coisas funcionam”.
Desafios constantes
A diferença relativamente à área de cosmética, em que a Organii atua como revendedora e é o único distribuidor em Portugal (vendem nas lojas próprias mas também para SPA’s, supermercados biológicos, dependendo do tipo de segmento), é que na área de puericultura, a Organii “representa algumas marcas e faz a revenda de outras. Vamos a feiras, escolhemos os produtos que achamos mais interessantes e apresentamos uma coleção ao nosso próprio público”. O maior investimento é ao nível de “stock” até porque tudo tem de ser pago em pré-pagamento.
“Ninguém entra neste tipo de negócios para perder dinheiro mas há que ter alguma capacidade de investimento para poder esperar. Não é de todo um negócio fácil, não é abrir a porta e começar a ter lucro. Há que acreditar. É algo que demora, que tem de ser alimentado, é preciso construir o público, explicar e informar. Dá tudo muito trabalho”, explica Cátia. “É um crescimento mais lento, mas sustentável, à nossa medida e de pessoas para pessoas. É um crescimento familiar em que conheço todas as pessoas da minha equipa”. Equipa essa que conta com 20 colaboradores no momento, entre lojistas, armazém, coordenadores, pessoas da área de comunicação, etc. “Temos também prestadores de serviços”, explica.
Quando questionada sobre a questão do preço destes produtos e sobre se esse é um fator que afasta o público do mercado biológico, Cátia não tem dúvidas: “Temos muitas marcas bastante acessíveis. Também há diferenças de preço porque a qualidade não é comparável. Há marcas no mercado que são muitíssimo muito mais caras. Há quem frequente perfumarias convencionais e que considere os nossos produtos mais acessíveis. Temos ainda roupas para bebés que, nas pernas têm encaixes para poder esticar mais dois números. Temos sweat shirts que também podem ser t-shirts, o que aumenta a época e a durabilidade. É possível fazer com que estes produtos sejam mais duráveis. As boas fibras resistem mais e podem ser partilhadas depois para outro filho ou para os primos”.
Além das lojas, a Organii guardou para 2017 uma novidade e montou a sua própria Academia, inaugurada no passado mês de maio. O público pode assistir a palestras, degustações e workshops, dentro da área artesanal e sustentável.
Cátia confessa que não fecha a porta a boas ideias. “Todas as semanas surgem pessoas genuínas a pegar numa tradição, a reinventar ou a ser sustentável. Apaixonamos-nos facilmente. Dá vontade de ter tudo. Estamos sempre a tentar avaliar como podemos ter, o tipo de stock, pensando sempre em modelos de negócio. Em que direção vamos? Depende muito. Se em 2009 nos dissessem que estaríamos aqui hoje integrados neste pólo, não acreditaríamos. Isto começou por ser um part-time entre mim e a minha irmã. As coisas vão fluindo e o negócio é muito dinâmico”. Não sabe o dia de amanhã mas também não o perspetiva. Quando a questionamos sobre a hipótese de virem a ter uma loja num centro comercial, Cátia responde: “Sabemos que há algo que está a mudar e que já existem maiores preocupações a nível de sustentabilidade por parte das administrações dos centros comerciais. É todo um caminho”.
Para já, a energia está focada na Academia e na 2ª edição do Eco Market, prevista para novembro deste ano. “Já não pensamos em novos projetos. Eles acabam por acontecer. Basta vir alguém da nossa confiança com um projeto giro, e lá vamos nós”, explica Cátia.
Móveis sustentáveis
Entre a clínica “The Therapist” e a loja Organii, naquele edifício cor-de-rosa do Lx Factory, está a Boa Safra, uma editora de design sustentável que promove a interação entre artesãos e a criatividade das novas gerações de designers.
Rui Rocha, fundador da marca, tem 40 anos e conta no Curriculum com alguns anos como diretor de produção numa indústria de mobiliário convencional, uma experiência muito importante para o projeto que decidiu criar. Durante quase 20 anos, estudou e trabalhou em simultâneo, entre compras e direção de produção.
A Boa Safra surgiu no mesmo ano que a Organii, em 2009, embora a sua presença comercial tenha começado dois anos depois. “Lançámo-nos online no mesmo ano em que abrimos a primeira loja no Porto, no Arrábida Shopping”, explica o responsável. Em 2013, abriram uma loja em Lisboa, na Embaixada no Palácio Ribeiro da Cunha, no Príncipe Real, começando uma boa relação e parceria com a Organii. “Curiosamente, éramos clientes mútuos quando nos conhecemos. A Rita e a Cátia tinham comprado produtos na Boa Safra e nós éramos consumidores da Organii. Fomo-nos conhecendo, partilhamos os mesmos valores e surgiu esta oportunidade”.
Tínhamos uma excelente indústria ao nível da madeira que estava muito afastada da criatividade que estava a nascer em Portugal. Os industriais e os designers falavam linguagens diferentes e estavam muito afastados. Achámos que seria muito importante casar as duas áreas”.
Na Boa Safra, valorizam-se as raízes nacionais. “Somos uma editora de design sustentável para a casa, trabalhamos com designers portugueses, temos fabricação natural; materiais e acabamentos naturais. Os nossos acabamentos são biológicos, não são tóxicos, e não utilizamos componentes orgânicos voláteis que são responsáveis por alergias e doenças de pele. Se conseguirmos baixar a carga destes componentes em nossas casas, conseguimos extrair daí um benefício grande, sobretudo nos quartos de bebés”, sublinha.
Herdou do bisavô a paixão pelo mobiliário. “Estive sempre envolvido a nível familiar neste tema. Cresci com a madeira e fui percebendo a importância que a fileira florestal tem para a sustentabilidade”. Entretanto, casou com uma engenheira do ambiente, que acabou por ter influência relativamente a estas preocupações. “Formei-me em engenharia industrial e de gestão na Universidade de Aveiro que também assenta muito na questão ecológica e ambiental. Ciência e ecologia estiveram sempre presentes na minha formação e o interesse foi crescendo. Além disso, sou a quarta geração da família a trabalhar a madeira e no ramo mobiliário”, explica.
Em algumas viagens internacionais que fez começou a perceber que os países nórdicos e do Centro da Europa “têm uma vivência da Madeira extraordinária que se perdeu em Portugal mas que se devia recuperar. Os nórdicos têm casas em madeira que são muito saudáveis porque equilibram a humidade do ar”.
E porquê o nome de Boa Safra? “Significa boa colheita. Tínhamos uma excelente indústria ao nível da madeira que estava muito afastada da criatividade que estava a nascer em Portugal. Os industriais e os designers falavam linguagens diferentes e estavam muito afastados. Achámos que seria muito importante casar as duas áreas numa linguagem comum e vimos exemplos muito bons disso a nível internacional. Enquanto editora, fomos desenvolvendo produtos próprios, peças únicas e originais com raízes tradicionais portuguesas”, salienta Rui Rocha.
No serviço de design de interiores, a Boa Safra trabalha com empresas parcerias estrangeiras que permitem complementar a oferta. “Tentamos, no entanto, que sejam marcas europeias, e o mais possível, próximas de Portugal. Há sempre essa preocupação”.
A Boa Safra tem sede em Gaia, um armazém que inclui uma pequena serração, em Ovar. “Temos uma pequena mercenária própria, e através dela, conseguimos desenvolver a tal rede criativa”, sustenta. São dez as pessoas que integram a equipa, entre assistentes de loja, e funcionários que integram a parte administrativa e a direção criativa. Designers são 20 e trabalham associados à marca, tanto no desenvolvimento de produto, como em design de interiores.
Próximo passo: internacionalizar
No que respeita ao crescimento da empresa, também Rui Rocha defende uma postura low profile. “Uma empresa com valores sustentáveis não pode entrar numa lógica de endividamento ou de crescimento muito rápido porque não tem capacidade e fica dependente das circunstâncias. Fomos tendo uma evolução muito lenta e muito calma. Não aceleramos esta evolução porque sentimos que íamos precisar de algum tempo para ter a equipa certa e a funcionar como gostávamos, os pontos de venda certos, e o produto afinado. Sentimos que estamos neste momento num ponto importante para comunicar a marca de outra forma e estarmos mais presentes na sociedade, quer em Lisboa, quer no Porto. Esta é a altura indicada para evoluir nesse sentido”, explica.
Relativamente à aposta na integração deste polo, o fundador considera que “correu muito bem, quer em visibilidade para a marca, quer em termos de vendas e de solicitações de orçamentos. Tem sido uma boa aposta. Estamos convencidos que esta foi das melhores decisões que tomámos”.
Na vertente do preço dos produtos comercializados, Rui Rocha tem uma opinião muito própria. “Quando se trabalha em sustentabilidade, também tem de se pensar em durabilidade. Uma peça nossa é capaz de durar centenas de anos. Uma peça produzida em aglomerado com melanina vai durar dois. Estamos a comparar coisas muito difíceis de comparar. Temos de dar uma dose de ativismo porque não estamos a vender produtos que sejam óbvios à partida. Não somos uma empresa muito cara mas os nossos preços não se comparam aos das lojas que vendem mobiliário mas que têm a sua própria lógica. Nós temos a nossa. O produto não é comparável e os custos associados à produção também não o são”. A tendência recente prende-se com clientes estrangeiros que vêm viver para Portugal. Por outro lado, existem portugueses com perfeita capacidade para comprar este tipo de produtos se perceberem todas vantagens de adquirir este tipo de produtos. Também existem marcas de mobiliário e de decoração que vendem peças muito mais caras do que as nossas”, refere.
Qual é o perfil de cliente da Boa Safra? É variado. “Precisamos de clientes que tenha consciência para a sustentabilidade que é algo que tem de ser desenvolvido. Acho que não nos faltam clientes com capacidade para comprar os nossos produtos que são mais do que suficientes para fazer crescer o nosso negócio. Também acontece termos muitas pessoas que adoram a nossa marca mas que ainda não estão numa fase da vida que o permita”.
O desafio atual deste novo paradigma económico passa por fazer o cliente perceber os benefícios e as vantagens de adquirir este tipo de produtos. Há um aspeto fundamental e que se relaciona com a nossa saúde e isso é válido, quer para os nossos acabamentos, como para a alimentação. O que sentimos muito é que há uma nova consciência para estes temas”. Na sede da Boa Safra, existe uma horta biológica que funciona numa lógica de sustentação local. Chama-se Bio Agro e integra o projeto “Colha Você Mesmo” sendo possível colher produtos diferenciados e que não são vulgares.
A presença da marca em Espanha já se faz sentir. Existe uma loja em regime de franchising em Vigo. “Sentimos que temos produto, equipa e base de partida para avançar para outros mercados”, adianta Rui Rocha. E é a partir daqui que se traça o futuro que já vai sendo presente. “O foco dos próximos dois anos é a internacionalização. Temos um projeto de investimento orientado para isso, alargar outros países onde podemos ser competitivos. Em 2018, pretendemos ter um distribuidor em França, e em 2019, na Alemanha”.
Em Portugal, o objetivo passa por “desenvolver uma rede de designers de interiores que trabalhem com a marca apoiados pelos pontos de venda”, sublinha.
Para o fundador da Boa Safra, não é fácil ser empreendedor, seja na área da sustentabilidade ou não. “É assustador verificar o rácio de empresas que sobrevivem ao fim de cinco anos. Ser empresário numa perspetiva sustentável exige ativismo. Somos primariamente ativistas. Não podemos pensar no lucro imediato e o sistema económico que temos exige resultados imediatos e rápidos. Uma empresa orientada para a sustentabilidade tem de conseguir sobreviver ao ambiente que é hostil a esta lógica. Acho que o que estamos a fazer aqui no LxFactory, em micro-escala, é algo fundamental: quem tem esta perspetiva tem de se unir; tem de se criar redes associadas, sinergias, e é isso que procuramos fazer”.
A adesão tem sido cada vez maior. É isso que sentem os fundadores destas três empresas onde a sinergia é a palavra de ordem. Mas também, partilha. “Coordenámos a oferta para não nos sobrepormos. Nós oferecemos massagens terapêuticas e se alguém nos pedir uma massagem de relaxamento, não oferecemos esse serviço, porque a Organii tem o SPA. A nossa componente é a terapêutica com o SPA e a Organii desenvolve a componente de relaxamento. Os produtos que usamos na clínica para as terapias são da Organii. As plantas que temos em exposição na clínica foram-nos cedidas pela Boa Safra. Há uma boa relação de proximidade. A Organii tem oferta para bebés e grávidas e nós tentamos não entrar nessa esfera. Funcionamos mesmo em parceria, sem sobreposição de serviços ou de oferta”, garante Joana Teixeira.