Estes são os empreendedores que estão a mudar o calçado nacional
Sabe quem são os empreendedores que estão a mudar o calçado nacional?
Citadin Shoes
A Citadin Shoes nasceu no final de 2013, com a premissa de criar sapatos para homens urbanos, chiques e cosmopolitas. Trata-se de uma empresa familiar, cujo impulso veio através de Phillippe e o Thomas Teixeira da Mota – a marca acabaria por ser criada por quatro pessoas, sendo as outras duas Margarida Teixeira da Mota e Vasco Azevedo.
É Vasco quem nos fala de como tudo começou. “O Phillippe e o Thomas trabalham fora de Portugal há algum tempo, e sempre tiveram dificuldade em comprar sapatos no estrangeiro: ou o preço era demasiado elevado ou a qualidade era fraca. Por outro lado, não tinham nenhuma loja de referência em Portugal.”
Como se sabe que a necessidade aguça o engenho, decidiram criar a sua própria marca. Uma marca em que se aproveitasse o know-how e qualidade do calçado português para oferecer sapatos bons a um preço razoável. A verdade é que o calçado não era uma estreia na família. “Há muitos anos a nossa família teve uma fábrica de sapatos no norte de Portugal. Mas isso foi apenas uma coincidência engraçada que só descobrimos depois de lançarmos a empresa”, recorda Vasco, destacando que o facto de não haver um conhecimento profundo da indústria foi o que “tornou o desafio ainda mais aliciante”.
A Citadin Shoes produz os sapatos em fábricas no norte do país com várias décadas experiência e vende diretamente através da internet. Desta forma reduzem os custos de distribuição/retalhista, o que permite vender os sapatos a um preço razoável. Mas o cliente é seduzido também pela política de entregas, trocas e devoluções, para tentar contornar a “barreira” do mercado online, explica Vasco. “Pautamo-nos pela rapidez na resposta e até agora o feedback tem sido muito positivo.”
A vender maioritariamente para Portugal, a Citadin já conquistou clientes em mais oito países europeus. “A ideia sempre foi obter um crescimento sustentado sem demasiado investimento em marketing, de forma a construirmos uma marca apelativa sem grandes aventuras financeiras. Temo-nos mantido fiéis à ideia inicial e crescido todos os anos”, observa Vasco. O mercado nacional representa entre 80 a 85% das vendas, mas o plano é também fazer um maior investimento na divulgação lá fora.
Daniela Catraia
Pode alguém que não tem qualquer ligação familiar à indústria do calçado saber fazer sapatos? Pode. Daniela Catraia é natural do Algarve, formou-se em Arquitetura na Universidade de Évora e, em 2015, criou uma marca de calçado em nome próprio. A área da moda sempre a fascinou, explica. Foi essa paixão que a levou, na altura em que trabalhava na tese de mestrado, a inscrever-se num curso-atelier de design de calçado na Lisbon School of Design. Durante o curso criou uma coleção e ganhou “a motivação necessária para arriscar”. Rumou a São João da Madeira, onde procurou ajuda e conhecimento técnico para concretizar o seu projeto, e algum tempo depois a marca tinha pés para andar.
O calçado desenhado por Daniela é inteiramente produzido em Portugal e reflete o seu gosto pela moda, pelo design e pela arquitetura. Gosta de explorar novas combinações de materiais, sempre numa vertente urbana, descontraída e contemporânea. “A marca posiciona-se num segmento médio-alto, de mulheres dispostas a pagar a qualidade do made in Portugal. Que valorizam a qualidade dos materiais, do design e apreciam o facto de terem uma peça de autor”, explica. As principais clientes são mulheres urbanas que valorizam o pormenor e detalhes que fazem a diferença num sapato. “Gostam de moda, mas querem andar confortáveis”, sintetiza.
As criações de Daniela Catraia são vendidas online, mas também em lojas parceiras, um pouco por todo o país. “A ambição é continuar a crescer”, adianta Daniela. “Tenho a consciência que ainda há muito mais para palmilhar. Queremos continuar a investir na expansão da marca e a exportação é o principal caminho.”
Friendly Fire
Nascida e criada em Guimarães, a Friendly Fire veio ao mundo em 2015 pelas mãos de Rute Marques e Alexandra Castro, e apresenta-se como sendo “um reflexo da personalidade alegre e irreverente das suas criadoras”.
A Friendly Fire é a marca própria de uma empresa de calçado de Guimarães, a JAM Fernandes e Filhos Lda., que acumula mais de 25 anos de experiência no setor de calçado, explicam Rute e Alexandra, cujas atividades profissionais – nutricionista e professora – andavam muito longe desta indústria. Juntando o know-how da empresa e a jovialidade desta dupla feminina, com “vontade de criar os modelos arrojados e diferentes que sonhava usar”, nasceu uma marca que prima pelas conjugações improváveis de cores, materiais e texturas, a pensar em clientes urbanas e sofisticadas. “Foi um verdadeiro desafio viabilizar do ponto de vista técnico as inspirações da equipa criativa, mas concordamos que o resultado foram modelos ousados e difíceis de concretizar, mas com a qualidade e segurança que a experiência da empresa possibilitou”.
Apostada em se destacar no mercado de luxo do calçado feito em Portugal, a Friendly Fire tem os focos apontados para o mercado internacional, certa de que “a qualidade dos materiais e detalhe das aplicações ‘empurram’ os modelos para o mercado médio/alto”.
Hoje, a Friendly Fire está presente em mais de 30 pontos de venda em Portugal, e também está representada em países como Espanha, Itália, França e Grécia. “Tínhamos planeado nos dois primeiros anos fomentar a nossa presença em Portugal, e só a partir daí avançar com segurança para o mercado internacional. Mas com apenas uma coleção nas lojas já cobrimos praticamente todo o território nacional, pelo que nos sentimos já capazes de canalizar esforços para amplificar a nossa presença internacionalmente.”
Green Boots
De Leiria chega uma história de calçado que se funda na tradição e no saber fazer de outros tempos, com o couro a assumir grande protagonismo. Pedro Rente Lourenço, filho do fundador da Green Boots (Luís Lourenço), diz-nos como tudo começou, em 2013. “Encontrámos um nicho de uma série de fábricas na Benedita, com origem familiar e que têm uma tradição centenária de produção de calçado em Goodyear Welt, um dos métodos de maior conforto e qualidade reconhecida na produção de calçado”.
Essas fábricas, tendo passado de geração em geração, permitiram acumular um conhecimento ímpar que a Green Boots colocou ao seu serviço, recuperando as técnicas artesanais de produção de calçado. Ainda que demoradas – as botas são feitas usando máquinas antigas, pelas mãos de artesãos, e cada par demora cerca de quatro horas a fazer – isso “garante a qualidade superior que procuramos sempre atingir”, esclarece Pedro Lourenço, salientando como a paixão dos mestres sapateiros confere um carácter único às peças: “A capacidade de reescrever a história dos seus pais e avós no mesmo âmbito, mas com a constante atualização que se requer, foi o que sempre nos fascinou, e por isso quisemos recuperar alguns modelos e materiais que estavam ‘desatualizados’ (como a pele de vitela natural curtida artesanalmente), mas que sem dúvida marcaram gerações e oferecem uma qualidade acima da média”.
Atualmente a Green Boots trabalha com cerca de 40 retalhistas a nível nacional, para além da loja online e alguns retalhistas na Alemanha, Áustria e Itália, posicionando os seus produtos na gama média-alta. Concentrando para já os esforços no mercado europeu, o plano para o futuro é apostar mais nas exportações para o norte da Europa e também expandir para o resto do mundo.
Os clientes da Green Boots são bastantes variados, sendo que a comunicação feita assenta sobretudo nas propostas mais jovens, na vertente da tradição e na vertente ecológica (o calçado à base de peles curtidas sem recurso a crómio e materiais reciclados como corticite e solas em pneu reciclado).
Guava
Inês Caleiro estudou design de comunicação e encontrou no calçado uma forma de expressão que a apaixona e lhe permite criar peças únicas. No currículo conta com a passagem pela London College of Fashion e um estágio na famosa marca Jimmy Choo.
Foi em 2010 que a Guava deu os primeiros passos, um processo que traria Inês de regresso a Portugal. “Comecei a dar forma a uma linha de calçado quase sem me aperceber. A linguagem geométrica estava presente em todos os modelos que desenhava, muito devido à influência que a arquitetura tem sobre o meu trabalho. Daí até decidir que queria criar uma marca foi uma rápida decisão”, recorda. Um ano depois a Guava tornava-se real, traduzindo a vontade de Inês de “ dar forma a um produto distinto, cosmopolita e inovador made in Portugal”.
Os sapatos da Guava, descreve a criadora, são inteiramente feitos à mão, juntando a originalidade de um salto criado por métodos contemporâneos. A marca está posicionada num mercado premium e cosmopolita e praticamente 100% da produção é para exportação. “O mercado em Portugal tem-nos surpreendido positivamente através das compras online, que tem demonstrado uma linha de crescimento cada vez mais notória”, observa.
Com preços a rondar os 360 euros por cada par de sapatos, a Guava tem a sua cliente-tipo bem definida: “Comunicamos para uma mulher independente, urbana e cosmopolita, que gosta de um sapato clássico mas com um toque de originalidade. Uma mulher que procura conforto e elegância, mas não abdica de um produto exclusivo.”
Para o próximo ano a aposta continuará a ser no mercado internacional, sendo que está também nos planos de Inês abrir um espaço interativo/showroom em Portugal.
Inouh
Três amigos juntam-se e decidem criar uma marca de calçado. Parece demasiado simples? Talvez seja, mas foi isso mesmo que fizeram Jaime Serôdio, José Silva e Mónica Dias, imbuídos de um espírito empreendedor e de um desejo de inovar e valorizar a tradição. Nenhum dos três fundadores tinha ligações familiares ao calçado – Mónica e Jaime vêm do marketing, e José das tecnologias de informação – mas todos sentiam interesse pela área.
Rapidamente chegaram ao conceito da Inouh – uma marca fortemente inspirada na etnografia lusa, ligada às raízes e à herança cultural, e beneficiando da experiência dos artesãos que fabricam o calçado. “As nossas coleções vivem de pormenores e apontamentos cuja inspiração advém sempre da etnografia de uma região de Portugal”, explica Mónica. “O resultado é uma marca com ADN 100% português, que vai encontrar inspiração em diferentes regiões do país”. A primeira coleção que a Inouh apresentou, por exemplo, foi inspirada no Minho, nas cores exuberantes, nos lenços e meias de renda que caraterizam os trajes tradicionais.
A operar no mercado há apenas dois meses, e no que diz respeito às vendas, a previsão da equipa é que a Inouh feche o ano com uma proporção de 60% para o mercado português e 40% no mercado internacional. “Na génese da Inouh está a internacionalização, pelo que a curto prazo iremos inverter esta proporção e alcançar um maior crescimento na área internacional”, observa Mónica.?
“Em 2017 temos vários desafios a superar que, acreditamos serão responsáveis por fazer crescer a nossa marca. Estamos a trabalhar para colocar as nossas coleções à venda em vários pontos de distribuição na Europa”, refere Mónica, afirmando que o Reino Unido e a Alemanha são mercados prioritários.
Josefinas
Toda a gente conhece os populares modelos de sapatos rasos com o nome ‘sabrinas’. Mas será que toda a gente conhece as Josefinas? A marca surgiu do encontro entre Maria Cunha e Filipa Júlio num concurso de ideias e empreendedorismo. “A Filipa tinha o sonho de criar uma marca de sapatos inspirados no ballet e feitos em Portugal”, recorda Maria. Curiosamente, o avô de Filipa tinha sido sapateiro, pelo que “a inspiração deve ter vindo dessas raízes”, justifica a cofundadora. Com o processo em marcha, juntou-se à equipa um terceiro elemento: Sofia Oliveira. O nome Josefinas, mais uma vez, remonta à história familiar de Filipa, cuja avó se chamava Maria Josefina.
As Josefinas posicionam-se como sabrinas de luxo, com ofertas mais clássicas e outras mais extravagantes, sempre com a tónica na qualidade e no glamour. Atualmente, cerca de 30% da produção é destinada à exportação.
Maria Cunha reforça o espírito subjacente às Josefinas, e que as inspira também a batizar algumas peças em homenagem a Haudrey Hepburn, Cleópatra ou Marie Antoinette: “Criamos para mulheres e inspiramo-nos no women empowerment: somos uma marca construída por mulheres, para mulheres. Acreditamos na força do feminino e que a marca Josefinas é um passo e uma inspiração para a concretização dos sonhos, ambições e desejos de tantas outras mulheres. Por isso a nossa comunicação é feita para as mulheres que se identifiquem com a nossa missão.”
Labuta
A palavra “labutar” significa “trabalhar, esforçar-se com empenho”. A Labuta, enquanto marca, pretende assim homenagear as antigas profissões que, pela exigência da sua profissão, precisavam de usar calçado de grande qualidade e durabilidade – caso dos mineiros ou dos estivadores.
A Labuta está no mercado desde 2015, e aposta em coleções que têm por base as tradições e a cultura portuguesas. A filosofia da marca? “Criar produtos diferenciados, que sirvam de ponte entre a robustez necessária no passado e o design e conforto exigido no presente, enaltecendo sempre o fabrico e o saber dos artesãos portugueses”.
Pedro Olaio é o rosto mais visível da Labuta. Sem família diretamente ligada à indústria do calçado, consegue no entanto estabelecer um paralelo entre a profissão do avô materno, que era alfaiate, e o seu próprio interesse pela moda. “Ainda hoje me recordo dos sapatos de cor mel estilo Oxford, que ele usava com os seus fatos bem engomados”. A atenção ao pormenor está, desta forma, entranhada nos genes da Labuta. Cada par de calçado que sai da fábrica demora quase quatro horas a ser feito. Isto porque cada sapato ou bota é produzido através do processo de fabrico Goodyear Welt, que confere ao calçado uma robustez, qualidade e durabilidade superiores.
Atualmente a marca posiciona-se no segmento médio, médio alto. “No entanto, a curto prazo, iremos conseguir ser cada vez mais abrangentes através da política de desenvolvimento e expansão que a marca está a adotar”, esclarece Pedro Olaio. “O nosso cliente-tipo é, por norma, um cliente cada vez mais informado, de faixas etárias diversificadas, que pretende um produto diferenciado e que gosta de qualidade e conforto sem grande ostentação.”
No que diz respeito às vendas, a estratégia passa pelas vendas online, mas não só. A Labuta pretende triplicar até ao final deste ano o número de lojas em que está representada, de modo a que ambos os canais – online e retalho – se complementem. “A nível internacional, e apesar de já estarmos no Canadá e na Suíça, iremos apostar numa maior expansão da marca, de forma a estarmos representados num maior número de países”.
Lazuli
Calçado e azulejos? É mesmo essa a proposta da Lazuli, uma marca que se inspirou nesse elemento da cultura portuguesa. A Lazuli nasceu em 2013, fruto da criatividade de um jovem casal – Ricardo Conceição, designer de calçado, e Jeanette Vieira, gestora de empresas – e surge de um projeto de longo prazo, explica Marta Oliveira, marketing manager da marca. Os dois profissionais juntaram esforços e criaram a empresa Shoelutions, que se dedicava então ao desenvolvimento de coleções para outras marcas”. Mas sempre existiu a vontade de criar a sua própria marca. “O projeto tornou-se realidade quando a inspiração surgiu da história e cultura dos azulejos portugueses, que conseguiam transmitir a portugalidade necessária para dar identidade a uma nova marca de calçado”.
As peças são fortemente inspiradas nas cores, nos padrões e na delicadeza do azulejo português. Cada modelo é pensado para cativar, sobretudo, “mulheres com sentido de humor e espírito livre, numa faixa etária dos 25 aos 45”. Posicionada num target médio, a Lazuli apresenta três linhas distintas, todas femininas: clássica, elegante com um toque de irreverência, e uma linha mais casual.
Desde o início que o destino da Lazuli tem sido a exportação. “Só posteriormente começámos a vender em Portugal, e agora podemos dizer que temos uma percentagem similar em ambos os mercados”, refere a marketing manager. Sendo uma marca bastante jovem, o plano para o futuro é crescer: “Neste momento para o investimento feito, ainda consideramos as vendas baixas, apesar de em Portugal já termos 20 postos de venda, e internacionalmente termos alguns mercados como Alemanha, Holanda, e Arábia Saudita. O nosso objetivo é aumentar as vendas, sobretudo a nível internacional, fidelizarmos os mercados que já conquistamos e conquistar novos mercados na Europa e noutros continentes”.
A estratégia passa também por investir numa uma nova plataforma de vendas online, e pela loja Lazuli na baixa do Porto – a loja abriu há cerca de meio ano e está a ser testada como modelo de negócio para, futuramente, se avançar para franchising da marca.
Mussas
Há pouco calçado tão confortável como as alpercatas, e foi precisamente essa a aposta de Teresa e Zé Maria, primos e fundadores da Mussas. Tendo uma forte ligação familiar a Moçambique, uma das viagens ao país africano foi o mote para transformar a capulana – um tecido marcante no quotidiano moçambicano – em algo mais. As alpergatas da Mussas são produzidas em Portugal, juntam o conforto ao design e, ao serem feitas com capulana de múltiplos padrões e cores, refere Teresa Santos, “servem de ponte entre estes dois povos desde há muito ligados”.
Apesar de relativamente jovem, o sucesso da marca tem sido notório, conforme refere a fundadora. “Até à data as vendas estão a ser superiores ao que estimámos, já nos encontramos em quatro pontos de venda: Chiado Factory, Real Slow Retail-Príncipe Real, Fio d’Água-Telheiras e Fio d’Água-Comporta, e também vendemos online através do nosso site”. No que se refere à exportação, a grande aposta tem sido o mercado moçambicano. “O feedback do mercado tem sido muito positivo e constata-se, mais uma vez, o conforto típico do calçado português, garantia dos produtos de excelência feitos em Portugal”.
O futuro passará por alargar os pontos de distribuição para aumentar o segmento de mercado, embora sempre de uma forma moderada e sustentada, reforça Teresa. “Acreditamos que, com esta estratégia que tem vindo a ser implementada gradualmente, seja possível conquistar uma posição de destaque no mercado”. A equipa revela-se bastante entusiasmada com as vendas deste verão, mas está também já focada no cenário do próximo ano. “Estamos a trabalhar para continuar o sucesso no nosso país e afirmar a presença da marca internacionalmente. No próximo ano irão surgir surpresas fantásticas”, promete Teresa.
Rutz
Pensamos em sapatos, e imediatamente nos lembramos de cabedal. Mas Raquel Castro e Hugo Baptista pensaram noutra matéria-prima quando criaram a Rutz: cortiça. Sem qualquer ligação à indústria do calçado, mas com conhecimento do mercado e com sentido de oportunidade, fundaram a empresa em 2012, com o objetivo de juntar tradição e modernidade num mesmo produto. “Acima de tudo, foi a ideia de que a união de dois setores tão fortes da economia portuguesa poderia ter um resultado muito interessante”, recorda Raquel Castro. Apaixonados por calçado e pelo design, Raquel e Hugo apostaram na cortiça enquanto material e também enquanto símbolo de origens e portugalidade. “No entanto, o objetivo foi de rutura com a apresentação da cortiça mais ‘cinzenta’ e a ideia foi mesmo imprimir-lhe cor, design e sofisticação, aliando a beleza natural do material a modelos que seguem as tendências da moda internacional”, explica.
Aquilo que diferencia a Rutz no mercado do calçado, observa a fundadora, é precisamente o facto de a cortiça ser o material base de todas as coleções. E ainda que a marca tenha um posicionamento premium, ao longo dos anos a Rutz tem procurado fazer chegar o calçado em cortiça a mais pessoas – para além do sexo feminino, também o masculino e o segmento infantil. “Também houve a necessidade de alargar o tipo de calçado, que começou por ser mais clássico e que neste momento tem diversas linhas, desde a mais clássica até aos novos modelos lançados este verão, que têm desde sapatilhas até aos chinelos e alpargatas e que têm tido muito sucesso”.
E quem compra calçado de cortiça? Sobretudo pessoas entre os 30 e os 50 anos, que em comum têm o facto de valorizarem o que é feito em Portugal, a qualidade e a diferenciação das marcas. “No caso dos clientes internacionais há também uma grande valorização da diferenciação da marca, da cortiça enquanto material base das coleções e do fator eco-friendly”.
E são de facto as vendas internacionais a grande aposta a médio prazo. “As vendas a nível nacional continuam a aumentar mas o grande objetivo é que até 2018 mais de 80% das vendas sejam internacionais”, avança Raquel. As principais exportações passam por países como os Estados Unidos, a Alemanha ou a Coreia do Sul. Por cá também tem sido feito investimento: em dezembro a Rutz abriu uma loja na baixa de Lisboa e em março a concept store da marca sofreu uma profunda alteração e abriu portas para a rua principal da LxFactory.
Sola
Se a parte de cima do sapato é importante, a sola não é menos. E é precisamente a sola dos sapatos a protagonista desta história. A Sola é uma marca de sapatos com solas personalizadas, pintadas à mão, criada em 2012 por Maria Briz e Rita Barreto, respetivamente mãe e filha. Os sapatos em pele são produzidos em Santa Maria da Feira, e são depois pintados por Rita com os mais variados motivos, desde os mais românticos aos mais divertidos e ousados.
Maria Briz – que trabalhava em comunicação e tinha vontade de montar um negócio próprio – com o qual se identificasse, conta como tudo começou. “A minha mãe é muito criativa, sempre trabalhou em áreas ligadas às artes. Um dia, na pressa de ir para um casamento, estragou umas sandálias. Como artista que é, não perdeu tempo e, com um colar antigo, resolveu o problema. As sandálias ficaram lindas, e eu pensei: e sapatos?”
Não tardou muito até a ideia tomar contornos mais reais. “Sendo o nosso país conhecido pelo seu calçado de alta qualidade, começámos a desenvolver a ideia, conjugar esta veia artística com uma peça tão feminina como um par de sapatos de salto alto”. E assim surgiu a Sola Art Shoes, com mãe e filha na qualidade de sócias. Rita é responsável pelo design e personalização das solas e Maria trata da gestão do negócio.
Sendo peças únicas, dado que cada sapato é pintado à mão, a Sola Art Shoes pretende cativar, sobretudo, um público moderno e que valoriza a elegância e o glamour – mulheres dos 25 aos 45 anos, urbanas, “que gostam de acentuar e transparecer a sua individualidade e personalidade”.
O grosso das vendas dá-se pela loja online, mas a Sola Art Shoes está também a apostar na presença em algumas lojas físicas. Isto, além da exportação para países como Rússia, Ucrânia, Mónaco, Brasil, Dubai e Arábia Saudita, que tem sido um dos principais fatores do crescimento da marca. E o futuro? Passará pelo lançamento de um modelo para o sexo masculino, avança Maria.
Trouxa Mocha
A expressão “trouxa-mocha” vem do castelhano ‘a troche y moche’, que significa “fazer de uma forma atabalhoada, confusa, a despachar”. Foi esta a expressão popular escolhida para batizar a marca criada em Coimbra por dois amigos – Eduardo Mota, arquiteto, e Paulo Vieira de Melo, economista – em 2011. No entanto, os artigos produzidos pela Trouxa Mocha não têm nada de atabalhoado. Trata-se, sim, de peças elaboradas em oficinas tradicionais, e que pretendem captar alguma da singularidade e identidade própria da essência do quotidiano português. Não falamos apenas de calçado, mas também de sacolas de pano, mochilas, boinas e peças de vestuário.
Foi, aliás, com as sacolas de pano que tudo começou. E com uma viagem a Moçambique onde foi adquirida uma bolsa feita em capulana. “Como já havia uma enorme vontade da nossa parte para ter um nego?cio pro?prio, essa pec?a foi o mote para arrancarmos com a produção e venda de trouxas, inspiradas nas clássicas sacolas de pano usadas pelas crianças, na primeira metade do século XX, para transportar os livros para a escola”, esclarece Joana, que integra a equipa da empresa.
No que toca ao calçado, a oferta da Trouxa Mocha é composta por botas, ténis e sabrinas, todos eles elaborados por oficinas/fábricas de pequena escala, e que preservam ainda os processos tradicionais de produc?a?o. É por esta via que a Trouxa Mocha pretende posicionar-se, numa primeira fase, como uma marca nacional conhecida. Segunda fase, a internacionalização. “Sabemos que os desafios são grandes, mas queremos definir as estratégias de marketing e de comunicação, implementar metodologias de organização próprias que contribuam para assegurar uma atividade internacional”.
Com uma loja situada no centro histórico de Coimbra, a marca garante haver já um número considerável de portugueses a conhecer e a identificar-se com o conceito da Trouxa Mocha. “Temos em média uma faturação anual de 50 mil euros na venda global de todos os nossos produtos em Portugal. As vendas para o exterior sa?o muito ocasionais e individualizadas”, refere Joana. “Queremos claramente expandir em Portugal e lançar igualmente bases sólidas para a exportação, alargar os canais de distribuição/colocação dos nossos produtos. Pretendemos que nos associem a uma marca de refere?ncia portuguesa.”