Hábitos de sucesso dos empreendedores
Todas as segundas-feiras, Alexandre Meireles, diretor executivo da cadeia de restauração NY Sliders, reúne-se com a sua equipa para analisar o planeamento semanal e ajustar a agenda à semana que vão ter pela frente. Para o empreendedor, que criou a cadeia de hambúrgueres em junho de 2013 e já conta com cinco lojas, um dos hábitos que mais contribuem para um melhor desempenho nos negócios é este: “É muito importante planearmos a nossa semana de maneira a otimizarmos a agenda.” Tanto, que o planeamento semanal está exposto no escritório, bem à vista de todos.
Esta foi também a forma que o empreendedor encontrou de se organizar, já que Alexandre admite que luta diariamente para ser mais organizado e, consequentemente, mais produtivo. Mas, esta capacidade de organização está também ligada a outro hábito que o empresário tenta manter: a atenção aos pormenores. “Penso que se vão tirando lições todos os dias e que há sempre desafios e situações inesperadas que temos de resolver. Considero no entanto que a grande lição que tenho tirado é que os pormenores fazem toda a diferença.”
Analisar o erro e atuar
Para além disto, Alexandre deixa ainda dois conselhos a futuros aspirantes a empreendedores: não desistir e ter capacidade de lidar com os erros. “Eu diria que é necessário analisar o erro e atuar rapidamente na sua resolução. Mas o mais importante ainda é perceber o que aconteceu e estabelecer rapidamente uma estratégia para que esse mesmo erro não volte a acontecer.”
A estratégia de Alexandre vai ao encontro aos conselhos do portal Soy Empreendedor, um portal de língua espanhola que, como o nome indica, se direciona a empreendedores, e que em junho deste ano publicou um artigo com 21 bons hábitos para ter sucesso: entre estes, estavam conselhos como cuidar da saúde, melhorar as relações com as pessoas e levar a cabo todas as tarefas até ao fim, mas há ainda um objetivo que sumariza a atitude do empresário português – “Compromete-te a melhorar.”
Mas, o diretor executivo da NY Sliders não é o único adepto fiel da organização e de listas. João Montes, fundador e CEO da Wine with Spirit, uma empresa produtora de vinhos criada em 2012 sob um inovador conceito de ‘enotainment’, também as faz. Mais: define as suas listas de tarefas consoante os níveis de prioridade e assegura-se em definir dois ou três objetivos fundamentais para cada dia que deverão ser cumpridos.
Já Frederico Cardoso, CEO da Vertty, uma marca portuguesa de produtos de lifestyle que vendeu a sua primeira criação, uma toalha de praia, para mais de 50 países, resolveu estender esta prática a toda a equipa: “Apliquei este simples hábito de fazer listas a toda a equipa e usamos uma aplicação onde podemos ver as listas de todos. O planeamento que faço para a equipa é todo baseado em ‘to-do-lists’, onde é delegada a tarefa e a data de conclusão. Assim, todos sabem o que têm de fazer e os seus prazos, o que simplifica o trabalho de estar sempre em cima dos seus colaboradores. Numa empresa pequena como a nossa esta estratégia é eficaz, mas numa empresa maior este tipo de metodologias podem não ser tão fáceis de controlar”, assume.
“Apliquei este simples hábito de fazer listas a toda a equipa e usamos uma aplicação onde podemos ver as listas de todos. O planeamento que faço para a equipa é todo baseado em ‘to-do-lists’, onde é delegada a tarefa e a data de conclusão.”
Evitar reuniões desnecessárias
Por outro lado, uma metodologia que tem funcionado para João Montes e para a sua Wine With Spirit é simplesmente apontar todas as conclusões a que chegaram no final de uma reunião, isto para avaliar a sua verdadeira utilidade. “Se não houver outcomes [conclusões ou resultados], então é porque a reunião era dispensável e provavelmente roubo-me tempo e foco. Nas próximas vezes pensarei duas vezes antes de marcar / aceitar a reunião com aquela pessoa ou sobre aquele tema”, conclui.
Para o empreendedor, cujo lema é ‘cash is king and focus is queen’, algo como “o dinheiro é rei e o foco é a rainha”, outro bom hábito a manter é criar um plano de tesouraria bem definido. “A maior parte dos projetos, mesmo com enorme potencial, que não assegure condições de fundo de maneio para atravessar a fase de ‘cash burning’ acaba por morrer na praia ou a ser transformado noutra coisa que não o inicialmente projetado.” Já quanto à segunda parte do seu lema, João assegura que manter o foco é essencial, ou seja, há que “traçar um plano e segui-lo resilientemente”.
O empresário, que viu a sua empresa arrecadar o título de empresa vinícola mais inovadora do mundo na edição de 2014 do Wine Business Innovation Summit, na Alemanha, mantém ainda dois hábitos diários e externos ao negócio que fazem toda a diferença na sua motivação profissional. Um é a prática de desporto (corrida e alongamentos) todos os dias às 6h30 da manhã, que o ajuda a “pensar de forma diferente e a questionar o que ando a fazer, e dá-me energia”. Outro é o recurso a um painel de conselheiros de pessoas com experiência em diferentes áreas de negócio, com que se reúne em grupo ou individualmente para pedir críticas e conselhos. “Costumo dizer em jeito de brincadeira que para me elogiar tenho a minha mãe, para quem, obviamente, tudo o que faço é um espetáculo (as mães são assim)”, brinca o CEO. “Por isso, pedi a um grupo de pessoas que de alguma forma se cruzaram comigo na minha vida profissional, ou que admiro, para fazerem parte deste grupo de conselheiros em que a sua missão principal é criticarem-me e depois ajudarem-me a pensar como ultrapassar e encarar os desafios. Acreditem que muitos dos seus conselhos valem mais do que investimento.”
Não é assim de admirar que um dos conselhos do empreendedor para quem pretende abrir um negócio seja não fugir da crítica, manter uma comunicação direta com os colaboradores e pensar bem no modelo de negócio por detrás da ideia – afinal, uma boa ideia pode não ser um bom negócio. Mas, há também vida para além do trabalho, e João salienta a importância da vida pessoal e de ter amigos e família que apoiem o empreendedor nos momentos difíceis.
E-mails só em alturas estratégicas
Questionado sobre quais foram os hábitos de que se teve de livrar para ser mais produtivo, o fundador da Wine With Spirit é pragmático: deixar de responder a solicitações de reuniões, passar a ver e-mails em apenas três momentos do dia e aprender a arte de dizer “não”.
“Quem ouve o ‘não’ não pode pensar que o que tem para dizer ou apresentar não é importante. Simplesmente pode não ser prioritário ou importante para mim naquele momento ou contexto. Mais vale, por isso, dizer que ‘não’ do que fingir que estamos a ouvir e desviar o foco do que é prioritário”, explica.
Gonçalo Fortes, fundador da Prodsmart, empresa criadora de um sistema de gestão de produção que permite melhorar a eficiência em fábricas e recolher dados de análise importantes para qualquer gestor fabril, partilha da mesma opinião, e diz que aprender a dizer “não” foi a sua principal lição enquanto empreendedor. Tal como João Montes, este empresário tecnológico também defende a importância de manter o foco no que é prioritário: “Foco é essencial no mundo dos negócios, pelo que livrar das distrações e focar no essencial são hábitos extremamente importantes. Aderir a processos e medir tudo são as únicas formas de saber que se está no bom caminho ou que é preciso ajustar”, diz.
Com uma abordagem muito prática e centrada nos resultados – Gonçalo diz que é importante aprender a vender antes de fazer -, o criador da Prodsmart partilha ainda outro hábito com o CEO da Wine With Spirit: para ser mais produtivo, diz que teve que se livrar do hábito de verificar demasiadas vezes o e-mail e o telemóvel. “Criei momentos ao longo do dia para o fazer e desliguei as notificações”, garante.
Outro hábito que tentou impor na Prodsmart é cultivar uma cultura de transparência, que permita “abordar os problemas de forma direta, sem grandes rodeios e sempre em busca de soluções”.
Já num âmbito mais pessoal, o empresário afirma ter o hábito de ouvir “música pesada”. “O ritmo ajuda-me a concentrar em tarefas repetitivas. Para além disso, a música tem sempre uma grande componente motivacional, quer no negócio quer na vida.”
“Se não houver outcomes [conclusões ou resultados], então é porque a reunião era dispensável e provavelmente roubou-me tempo e foco. Nas próximas vezes pensarei duas vezes antes de marcar/ aceitar a reunião com aquela pessoa ou sobre aquele tema”.
Vida pessoal é importante
Se o CEO da Vertty, Frederico Cardoso, se encontra entre os empreendedores convertidos ao poder da organização e das listas, por outro lado o jovem empresário também destaca a importância da vertente pessoal. Para manter a concentração e aumentar a motivação, Frederico criou uma rotina matinal, que inclui um “bom pequeno-almoço e um passeio relaxado” com os seus cães. “Outro hábito muito importante é fazer desporto todos os dias e preferencialmente desportos diferentes. O exercício físico é muito importante para a saúde mental e fazer exercícios/desportos diferentes leva-nos sempre para um universo distinto, o que estimula a criatividade. No nosso negócio a criatividade é a chave número um para o sucesso e por isso tento estimular a minha e dos que me rodeiam.”
Ao mesmo tempo, Frederico, que criou a Vertty com mais três amigos na casa dos 20, defende que a principal lição que aprendeu desde que se tornou empresário, em 2013, foi ter ponderação e calma. “Não devemos querer e ambicionar tudo de um dia para o outro. Hoje vejo as coisas de maneira diferente e penso mais a estratégia a longo prazo.” Para tal, e como os outros empreendedores, também desliga as redes sociais.
David Mota, fundador e CEO da Sky Eye, uma empresa inovadora de recolha de imagens aéreas através do uso de drones, vai ainda mais longe: “Desligo o Skype e todos os chats online.” Para o jovem empresário, que criou a empresa em 2012, “não há uma fórmula mágica” quanto aos hábitos a ter para se ser bem-sucedido. A solução, diz, é mais personalizada: “Passa pelo conhecimento de nós próprios de forma a percebermos qual o local e horário em que somos mais produtivos e eficientes. Depois disso, é ser muito disciplinado e criterioso na gestão do tempo.” À semelhança dos restantes entrevistados, David também faz listas diárias, que divide por temas e por importância, e nota que a principal lição que aprendeu foi também a saber dizer “não”. No entanto, chama-lhes “nãos positivos”, ou seja, apresentando uma solução a meio-termo, benéfica para ambas as partes.
Outro hábito que o empresário alimenta é o controlo emocional. “Isso significa não entrar em euforias quando as coisas correm bem ou entrar em desespero perante as dificuldades. É importante partilhar os sucessos, mas talvez seja ainda mais importante partilhar os desafios e as dificuldades, pois quando o fazemos estaremos mais perto de os resolver.”
Bons hábitos dos empreendedores
- Fazer listas de tarefas a cumprir e organizá-las por ordem de prioridade
- Rever as mesmas no final do dia e assegurar que as metas foram cumpridas
- Assumir os erros e ter capacidade de resposta
- Aprender a dizer “não”
- Ter uma comunicação clara e direta com os colaboradores
- Evitar as reuniões que não sejam estritamente necessárias
- Ter atenção à tesouraria e manter um fundo de maneio
- Desligar as redes sociais e só verificar os e-mails em alturas estratégicas do dia, como de manhã e ao final da tarde
- Manter-se focado nas prioridades da empresa
- Manter uma boa rede familiar e de amigos
- Cuidar da sua saúde, através de uma boa alimentação e prática desportiva – vai ter mais energia para as exigências do negócio
- Não ter medo das críticas e pedir a opinião de outros empreendedores com mais experiência
- Conhecer os seus horários – se é mais produtivo à tarde, trabalhe nesse período
Texto: Ana Tavares
Artigo publicado na edição de agosto/setembro de 2015 da revista NEGÓCIOS & FRANCHISING