O Franchising em Portugal: o ano de 2018 em revista
Publicados os resultados do ’23.º Censo – O Franchising em Portugal’, elaborado pela IFE by Abilways, verificou-se um reforço do crescimento do franchising no nosso país em 2017, com 610 marcas em a operar neste modelo, que geraram um volume de negócios de 5.491 milhões de euros e garantiram 2,72% do emprego nacional. Recorde os números deste ano.
A evolução positiva nos últimos quatro anos confirma a consolidação do crescimento do franchising em Portugal, onde 610 marcas estavam a funcionar em regime de franchising em 2017, correspondendo a um aumento de 6,3% face a 2016.
Foi também um ano favorável à entrada de novos conceitos, com 40 novas marcas que iniciaram a expansão neste modelo no mercado português.
Qual o impacto deste crescimento ao nível macroeconómico? Quais os seus efeitos na estrutura do franchising no nosso país? Estas são duas questões globais que iremos responder em detalhe.
Recordamos que os dados apresentados são referentes à situação das redes de franchising à data de 31 de dezembro de 2017.
A riqueza gerada franchising continua a aumentar o seu contributo para o desenvolvimento económico nacional
Como foi referido na introdução deste estudo, o volume de negócios gerado pelas redes de franchising foi de 5.491 milhões de euros, ou seja 2,84% do PIB nacional em 2017. Este valor significa um aumento de 324 milhões de euros comparativamente a 2016.
Por outro lado, o franchising assegurou 129.280 postos de trabalho no ano passado, representando 2,72% do total do emprego no nosso país, um crescimento de 0,17% relativamente a 2016.
A nossa interpretação é a de que este desempenho económico das redes em franchising no contexto nacional está relacionado com a continuação do crescimento do consumo interno, que voltou a ser um dos principais impulsionadores, não só para o aumento produto interno bruto, mas também para o aumento do emprego no nosso país.
O universo do franchising em Portugal continua assente nos conceitos nacionais, mas as marcas espanholas reforçam a sua posição
Os empresários portugueses continuam a valorizar o franchising como opção para a expansão dos seus negócios, o que explica a predominância dos conceitos nacionais no panorama do franchising em Portugal. Em 2017, as marcas lusas representavam 66% do total das marcas presentes no nosso país.
No entanto, as marcas com origem em Espanha reforçaram a sua posição face ao ano anterior, representando agora 17,9% do total das marcas, um crescimento de 3,2%. A proximidade e o ambiente económico português são dois fatores que poderão explicar este interesse das marcas espanholas pelo mercado nacional. Esta estratégia dos empresários espanhóis é bastante evidente, tendo em consideração o aumento do número de marcas do país vizinho que iniciaram a expansão em Portugal em 2017, como veremos mais à frente.
A estrutura setorial do franchising mantem a mesma tendência há mais de uma década
No que diz respeito distribuição das marcas franchisadoras por setor de atividade, os serviços continuam a liderar com 57,7% (mais 0,4% que em 2016), ou seja, mais de metade dos negócios em franchising ativos no país. Para este domínio, continuam a contribuir os conceitos de serviços para particulares, que representam 43,6% do total das marcas do setor.
O comércio, mantêm-se como o segundo setor mais representado no panorama nacional do franchising, com 29%, seguindo-se a restauração com 13,3%.
Apesar do surgimento de novos conceitos de comércio e de restauração, na realidade essas novas marcas continuam ser em número inferior comparativamente ao número de negócios na área dos serviços que iniciaram a sua expansão no ano passado, conforme veremos no ponto referente ao enquadramento das novas marcas.
Os negócios enquadrados no escalão de investimento entre os 25.000 a 50.000 euros foram os que mais cresceram em 2017
Quase metade das marcas a operar no nosso país (43,6%) situam-se no escalão de investimento até 25.000 euros, no entanto, foram os conceitos que implicam um investimento entre os 25.000 e os 50.000 euros os que mais cresceram em 2017, no qual se enquadram 26,5% das marcas, ou seja mais de um quarto dos negócios em franchising que atuam no país, significando um aumento de 4% comparativamente ao ano anterior.
Este aumento poderá ser explicado não só pelo surgimento de negócios, que pelas suas características, requerem maior investimento, mas também pelo facto de algumas marcas terem ajustado os seus conceitos à evolução do mercado. Estes dois escalões juntos correspondem a 70,1% dos negócios em franchising, mais 0,6% que em 2016.
O escalão intermédio que vai dos 50.000 aos 100.000 euros, estabilizou na terceira posição com 17,7%, depois de ter sido o que mais cresceu no ano anterior. Por fim, os dois escalões mais elevados são os menos representativos, mas ainda assim houve um crescimento de 1,6% no nível de investimento superior a 250.000 euros.
Uma expansão moderada revela que a prioridade é a consolidação da rede
Fazendo uma análise global do cenário da dimensão, há que assinalar que cerca de um quarto da totalidade das marcas (25,6%) têm até 4 unidades.
19% das redes tinham no ano passado entre 5 e 9 unidades, um aumento de 3% em comparação com o ano anterior. De realçar que também houve um ligeiro aumento (1,2%) das redes que têm entre 20 a 49 unidades, que representam 23,2% das marcas.
Esta evolução do número de unidades leva-nos a crer que, embora os franchisadores tenham uma estratégia de expansão ativa, a sua principal prioridade é consolidar a rede de uma forma sustentada. Por outro lado, é preciso ter em consideração a dimensão do mercado português, que no caso de alguns conceitos, que pelas suas características se justifica que tenham um número reduzido de unidades no território nacional.
Todo o território nacional tem potencial para a expansão, mas o foco está no distrito Porto, no Algarve e na área da Grande Lisboa
Relativamente ao tema das zonas prioritárias de expansão, nesta edição do estudo, introduzimos uma nova perspetiva de análise. Nos estudos anteriores, o cálculo da percentagem foi realizado face ao número total das respostas. Agora a percentagem é calculada face à totalidade das marcas da amostragem.
Todos os distritos acabam por ser referenciados prioritários para a expansão, no entanto, uma vez mais, o distrito do Porto surge com o maior número de respostas, tendo sido mencionado por 56,7% das marcas. Em segundo lugar, surge o distrito de Faro, indicado por 56,2% das marcas, que ultrapassa o distrito de Lisboa, referido por 53,8% das redes.
À partida, poderia ocorrer que o distrito de Lisboa, pela sua dimensão e contexto económico, fosse o mais referenciado pelas marcas, mas tal não acontece e uma das possíveis explicações que encontramos é o facto de boa parte das marcas já estarem estabelecidas na zona da grande Lisboa e que por isso focam a sua expansão para outras áreas geográficas.
Por outro lado, é conhecido o forte dinamismo empresarial da região do Porto, com uma das áreas metropolitanas economicamente mais ativas, constituindo um mercado bastante apetecível para as marcas franchisadoras.
O turismo e o facto de ser o destino de muitos estrangeiros que decidem residir em Portugal, torna também o Algarve um mercado com grande potencial para as marcas de franchising, não sendo por isso de estranhar o posicionamento desta região como uma das principais áreas prioritárias para a expansão.
Apesar de se revelarem algumas assimetrias no que se refere às zonas prioritárias para a expansão, estas são mais ligeiras, comparativamente com outros indicadores económicos. Uma das razões é a capacidade das marcas franchisadoras de se ajustarem a mercados com diferentes dimensões, conseguindo tirar partido do potencial que lhes é oferecido pelos eixos urbanos mais reduzidos.
O mercado português aumenta a captação de novas marcas de franchising
40 novos conceitos iniciaram a sua expansão no regime de franchising em Portugal durante o ano passado, demonstrando a capacidade nacional para criar e desenvolver de novos conceitos, mas também para atrair conceitos internacionais.
Um dado interessante a realçar é o facto de 25% das novas marcas serem de origem espanhola, facto ainda mais assinalável se tivermos presente que em 2016, eram apenas 8,3%. Este crescimento, revela um maior interesse dos franchisadores do país vizinho pelo mercado nacional, procurando aproveitar uma conjuntura marcada por um maior índice de consumo, mas também pelo facto dos empreendedores e empresários nacionais voltarem a ter acesso a fontes de financiamento para a criação de novos negócios.
Estes dois fatores, também poderão ter motivado o início da expansão em franchising dos 27 novos conceitos nacionais, que representam agora 67,5% do universo das novas marcas.
Em termos setoriais, também no âmbito das novas marcas, os serviços são o principal setor, representado, por 62,5% dos novos conceitos, reforçando o seu posicionamento em 12,5% comparativamente a 2016. Seguem-se os conceitos na área do comércio com 22,5% e por fim a restauração com 15%.
Quanto ao nível de investimento, 57,1% das novas marcas enquadram-se no escalão até 25.000 euros, seguindo-se as que exigem um investimento entre os 25.000 e os 50.000 euros com 28,6%. Se juntarmos estes dois escalões, podemos concluir que 85,7% destas novas marcas requerem um investimento que até aos 50.000 euros.
As marcas nacionais já estão presentes nos quatros cantos do globo
Pela primeira vez, apurámos a presença de marcas lusas nos EUA e na Austrália, reforçando assim o carácter global dos conceitos “made in Portugal”.
Recordamos que esta análise incide sobre as marcas nacionais que estão a expandir no regime de franchising em Portugal e no estrangeiro, não sendo objeto de estudo os negócios que apenas têm acordo de franchising em mercados externos.
Seguindo a tendência dos anos anteriores, a Europa mantêm-se como o principal mercado externo para as redes nacionais de franchising, sendo o destino de 45,2% destas marcas. Dentro do mercado europeu, Espanha é o país onde se encontra o maior número de marcas portuguesa, com 15%, ainda assim perdeu 7,9% face a 2016, o que nos leva a concluir que está a haver uma maior diversificação dos mercados para onde os conceitos nacionais se estão a dirigir.
Em 2017, a Ásia ultrapassou o mercado africano, e passou a ser o segundo continente com maior presença de marcas de franchising nacionais, tendo acolhido 20,9% do total das redes com unidades fora do país. 56,8% destes conceitos estabeleceram-se na região do Médio Oriente e 13,5% fixaram-se na China (incluindo as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong).
19,8% das marcas portuguesas escolheram África para expandir os seus negócios, com destaque para Angola, onde se encontram 40% dos conceitos nacionais instalados neste continente e Moçambique, para onde rumaram 20% destas redes.
Os países da América do Sul e Central acolheram 12,4% das marcas nacionais no exterior, sendo o Brasil o principal mercado alvo de 31,8% das marcas que se expandiram para esta região do globo.
Como já foi referenciado, pela primeira vez desde que introduzimos no censo a análise sobre a expansão internacional das marcas portuguesas, registámos a expansão de 2 marcas para os EUA e de 1 marca para a Austrália, assinalando a presença lusa no continente norte-americano e na Oceânia, demonstrando a capacidade do franchising nacional para transpor barreiras, adaptar-se a mercados tão diversificados.
Qual o perfil do franchisado Ideal: ser empreendedor é essencial, mas ter capacidade de investimento é cada vez mais importante
Quando questionados sobre as características que mais valorizam num candidato a franchisado, como habitualmente o espírito empreendedor surge em primeiro lugar, seguindo-se a capacidade financeira, que agora é mais valorizado que o perfil comercial, que passou a ser o terceiro atributo mais valorizado.
Esta relevância da autonomia financeira reforça o quanto é importante que o futuro franchisado consiga garantir um investimento inicial constituído maioritariamente por capitais próprios para assegurar uma gestão mais eficaz e sustentável da unidade franchisada.
Apesar de surgir na terceira posição, o perfil comercial do franchisado continua a ser uma das características mais importantes para os franchisadores, que reconhecem que o sucesso da unidade depende, em grande medida, da competência do franchisado para vender os produtos e serviços da marca no mercado que lhe está atribuído. Seguem-se as competências técnicas na área de atividade do negócio, a vasta rede de contactos e a experiência de gestão.
Nesta questão, pedimos que fossem referidas outras competências, para além das seis sugeridas e os atributos indicados com mais frequência foram a capacidade de liderança, a resiliência e a honestidade, que no fundo são três competências essenciais para uma boa gestão de um negócio, independentemente de ser ou não em regime de franchising.
Comparativamente com o ano passado, as marcas preveem uma maior expansão em 2018
Perguntámos às marcas qual o número de unidades que preveem abrir durante o ano de 2018 e 51,1%, estima a abertura até 5 unidades, o que não surpreende, tendo em consideração a dimensão média das redes a operar no mercado nacional.
Por outro lado, 28,7% previa a abertura entre 5 a 10 unidades, ou seja um crescimento de 5% neste escalão de aberturas face ao ano passado e 20,2% das marcas revelaram a ambição de crescer mais de 10 unidades durante este ano. Estes números revelam que as marcas têm uma perspetiva otimista de crescimento da rede.
A nossa antevisão é a de que o franchising em Portugal continuará a crescer em 2018
Os dados agora apresentados dão-nos uma visão positiva da evolução do franchising em Portugal. Mas o que se pode esperar para 2018?
Apesar de ainda não existirem dados estatísticos referentes a este ano, pela dinâmica a que temos assistido nos últimos meses, com o surgimento no país de novos conceitos nacionais e internacionais, nas mais variadas áreas de negócio, o desenvolvimento da expansão de muitas das redes que operam no mercado nacional e a procura crescente do franchising pelos empreendedores que optam por este modelo para criar o seu próprio negócio, leva-nos a acreditar que se mantenha um cenário de crescimento do franchising em Portugal, em 2018.