Trazer de volta a tradição da venda a granel
A ideia partiu de uma transmontana e de um açoriano que quiseram “arriscar” em Portugal a implementação de uma tendência que já há algum tempo andava a dar que falar noutros países: a venda de produtos a granel. A escolha do bairro de Alvalade, em Lisboa, foi o ponto de partida para um ‘casamento’ que até agora se tem revelado perfeito.
Apesar de a estreia ter acontecido em novembro de 2015, a ideia começou a ser pensada em 2013 quando em conversa com alguns amigos Eduardo e Eunice Maia, marido e mulher, perceberam que a venda de azeite a granel, e de qualquer outro produto, na verdade, poderia ser um negócio com interesse.
“Comecei a investigar e percebi que podíamos alargar o conceito a outros produtos e foi nessa busca que encontrei algumas lojas no estrangeiro que tinham o conceito que eu tinha pensado, ou que pelo menos era parecido. Comecei a procurar informação sobre elas e inclusivamente fui visitar algumas lojas em Itália, em Espanha, em Inglaterra…”.
Em abril de 2015, o projeto é retomado, mas desta feita já com outra preocupação: a de aliar a sustentabilidade à utilização de alimentos de elevada qualidade, os produtos biológicos. Como nos conta Eduardo, “isso era uma inovação em relação a muitas das lojas que eu tinha visto, em que de facto se vendia a granel, mas os produtos não eram exclusivamente biológicos e aqui existe esse ponto adicional, digamos assim.”
Depois da identificação dos fornecedores mais indicados para integrarem o projeto, alguns dos quais nacionais, Eduardo e Eunice Maia começaram a pensar numa marca que queriam que nascesse “interessante, apelativa e com alguma perspetiva de poder ter crescimento e desenvolvimento, se as coisas corressem bem. Foi sobretudo essa a preocupação que tivemos ao criar a marca.”
“Há aqui uma série de aspetos que traduzem isso. Existe ainda associada a essa questão da preocupação com a sustentabilidade, a preocupação de tornar acessíveis os produtos biológicos. Toda a gente associa os produtos biológicos a produtos que são mais caros e a Maria Granel também quer desmistificar um pouco isso. E de facto, aqui, as pessoas podem levar a quantidade que quiserem, não precisam de levar um quilo de produto, podem levar só 100 gramas. Os produtos são, dessa forma, produtos com preços mais competitivos do que noutras superfícies comerciais, inclusive nas grandes, como é o caso das especiarias que aqui vendemos a granel”, conta-nos Eduardo.
Tradição com nome próprio
O nome da loja, Maria Granel, por outro lado, foi uma forma de associar um conceito que tem um ‘quê’ de tradição com um nome próprio tipicamente português, o ‘Maria’. Contudo, ao contrário das mais antigas lojas que vendem produtos a granel, das quais ainda há vestígios na cidade de Lisboa, neste supermercado a granel é o cliente que se serve sozinho, para sacos em papel disponibilizados na loja ou em embalagens trazidas de casa, porque, afinal, o objetivo é ser mais sustentável do que um supermercado típico.
Os produtos estão também estes tipicamente organizados por secção, começando pelas especiarias, logo à entrada, “para dar um aroma quando se entra”. Percorrendo-se o espaço da loja é ainda possível encontrar chás, infusões, arrozes, frutos secos, massas, farinhas, granolas, cereais de pequeno-almoço, superalimentos, chocolates, açúcares e outros tipos de adoçante, azeite, mel e até gomas biológicas e vegetarianas, feitas à base de gelatina não animal.
“agora o importante é consolidar o conceito, perceber se estamos a falar de uma moda, de uma novidade, ou se estamos a falar de uma realidade com alguma sustentabilidade. Nós acreditamos, e esperamos, que seja a segunda opção e que haja aqui algum potencial de sustentabilidade, até porque estamos também a falar de um mercado que tem vindo a crescer de forma sustentada, o biológico, aqui com a variante de ser a granel.”
Para além disso, os donos do supermercado têm “a preocupação de fidelizar clientes”, “facilitando-lhes o acesso a produtos biológicos, até porque existe aqui um fator de proximidade envolvido. O facto de termos aberto em Alvalade também tem a ver com isso. Em primeiro lugar porque era um bairro que nós frequentávamos, e depois porque tem muitas famílias, bastante movimento e um cliente-tipo que eu acho que se enquadra no nosso conceito. Essa foi uma das razões principais para abrir aqui. Foi claramente um ‘casamento’ que eu achei que era importante fazer”, revela-nos.
Depois, segundo Eduardo, é importante que o consumidor volte a ter o poder de decidir que quantidade deseja comprar, democratizando ao mesmo tempo o acesso a produtos biológicos, considerados sempre mais caros do que os restantes. “Queremos que através da venda a granel as pessoas percebam que podem ser opções ao mesmo nível de preços que as versões não biológicas, porque podem levar apenas o que necessitam. E de facto temos sentido isso aqui. Esse é um dos aspetos que as pessoas referem muito e que evidenciam mais, o facto de poderem levar apenas um pouco, uma quantidade mais à sua medida. É no fundo transferir para o cliente o poder de decisão. O cliente é que decide a quantidade que quer levar. Para além disso, aqui existe uma variedade de produtos que não se encontram com facilidade noutros locais e isso é uma vantagem.”