Na hora de abrir um negócio são muitas as dúvidas e indecisões. O medo é natural mas não deve ser um entrave e falar com quem já passou por esta fase pode ser um bom desbloqueador. A Negócios & Franchising falou com seis franchisados que estiveram no passado mês de junho na maior feira de franchising nacional, a ExpoFranchise, em Lisboa, a dar o seu testemunho sobre como ultrapassar as dificuldades na criação de um negócio.
“Não aconselho ninguém a fazer o que eu fiz”, diz Duarte Correia, rindo. O franchisado da rede de administração de condomínios Charib tomou a decisão de abrir a sua unidade, em Setúbal, em apenas 12 horas. “Somos um bocado atípicos, na altura pensámos no investimento, achámos que a área era interessante, que havia espaço no mercado e gostámos do franchisador”, explica o empresário sobre a decisão espontânea que tomou com a esposa após uma pesquisa inicial pela marca.
Após vários anos a trabalhar na sua área de formação, o controlo industrial, e na área dos equipamentos hospitalares, Duarte ficou incapacitado de exercer a sua profissão e resolveu investir o capital que tinha acumulado. Imediatamente atraído pelo negócio da administração de condomínios, investiu cerca de 20 mil euros na abertura da sua unidade Charib, em 2007.
“O nosso break-even foi muito curto e ao fim de um ano já tínhamos lucro”, garante. No ano passado, abriu ainda uma unidade da Charib Imobiliária para complementar o seu negócio.
Uma história invulgar
No atual panorama económico, cada vez mais competitivo e complexo, histórias como esta são poucas. Muitos querem investir, mas não conseguem ultrapassar o receio inicial de arriscar. Apesar de se definir como “um comercial por natureza”, Duarte admite que teve sorte – no segundo ano, a sua unidade cresceu quase 700% – e não aconselha o seu modus operandi a outros investidores. “Uma das precauções que se deve ter é visitar outras unidades do mesmo franchising para sentir o pulso à coisa”, afirma. “Há ainda que avaliar a nossa capacidade financeira, temos que ter os pés bem assentes na terra.”
Na verdade, o franchisado pode ter-se precipitado na sua decisão, mas os seus instintos de gestão estavam certos: reservou cerca de 15 a 20% do investimento para um fundo de maneio, algo que aconselha a outros investidores. “Temos que ter resistência financeira para aguentar os primeiros meses. Não temos clientes, mas temos custos, como royalties e renda.”
Apesar dos bons instintos, Duarte salienta que a principal dificuldade de quem está a começar reside não só na contratação de pessoal – dificuldade que, aliás, se mantêm -, mas também na própria gestão do negócio. “Queria perceber como isto funciona, saber como antecipar certos indícios para poder corrigi-los. Tive o apoio completo do franchisador ao longo destes anos, há uma disponibilidade total.”
Mas, por muito bom que seja o franchisador, o empresário não deixa de sublinhar a importância do envolvimento direto do franchisado no negócio: “No setor dos serviços tem que haver dedicação, porque não vamos deixar outros a gerir o nosso negócio.” E deixa ainda um conselho para os que têm medo de arriscar: “Todas as empresas grandes nasceram pequenas. Quando temos uma empresa, mesmo numa economia difícil, sentimo-nos reconhecidos, vemos os frutos do nosso trabalho e empreendedorismo. Deve-se sempre arriscar.”
Reconverter um negócio tradicional
Paulo Laranjeira também acha que arriscar é preciso, só não sabe se arriscaria hoje no mesmo negócio. Proprietário de um pequeno império de sete lavandarias – cinco em regime de franchising e duas tradicionais -o franchisado da 5àSec continua com orgulho o legado dos pais, particularmente da mãe, que trabalha no ramo desde os 14 anos. Contudo, afirma que o alto investimento necessário e o retorno mais lento na atual conjuntura económica o demoveriam de apostar hoje na mesma área de negócio.
“Tinha uma ideia um pouco fantasiosa de que ia entrar muita gente assim que abrisse a porta. A dada altura questionei-me se tinha feito a coisa certa.”
Há cerca de 25 anos, os pais de Paulo compraram uma lavandaria em Rio de Mouro e, de seguida, outras duas em Massamá. Enquanto a lavandaria original foi mais tarde convertida numa unidade 5àSec, uma das lavandarias de Massamá abriu logo sob a chancela da marca, não muito depois de a 5à Sec ter chegado a Portugal, em 1993.
Na altura, Paulo era ainda estudante, mas quando se começou a envolver no negócio da família e a adquirir mais lavandarias, admite que foi privilegiado. “Para ser honesto, para mim não foi difícil, tinha o know-how dos meus pais e o acesso ao crédito era muito fácil naquela época. Bastava dizer que queríamos abrir uma empresa e os bancos emprestavam o dinheiro. Não tive muitas dificuldades, costumo dizer que aquilo é uma altura que não volta atrás, qualquer negócio dava dinheiro”, afirma.
Presença física na loja
Foi esta boa conjuntura económica que lhe permitiu pagar o montante investido em cada lavandaria – cerca de 125 mil euros na altura – num período de tempo muito ao inferior aos dez anos que haviam sido estipulados. ”Hoje não há essas facilidades”, assume o franchisado.
Ainda assim, Paulo deparou-se com algumas dificuldades à medida que foi abrindo unidades, nomeadamente por causa da gestão diária do negócio e, acima de tudo, pela crise. “A crise em 2011/12 foi quando nos bateu mais. Tentamos ter clientes pela qualidade do serviço. Assim, claro que a crise nos afetou, mas os clientes ficaram”, diz. “Tivemos que nos ajustar a nível de pessoal, mas conseguimos sobreviver, porque o cliente confia em nós. Eu e a minha mulher estamos todos os dias na loja, o que ajuda a criar confiança.”
Tal como o franchisado da Charib, Paulo Laranjeira defende que a presença física nas lojas é importante para o negócio, bem como o conhecimento que se tem deste e a necessidade de fazer um plano de segurança financeiro para os primeiros meses, em que não se recebe propriamente salário. “Estando estes assegurados, o local é o principal fator para ter êxito”, garante. “A visibilidade e exposição ao cliente são muito importantes.” Outro dos seus conselhos passa pela atenção que se deve ter na escolha do negócio, já que alguns “são muito efémeros”.
E, embora afirme que hoje não investiria no negócio das lavandarias, Paulo gostava de investir noutro setor, nomeadamente no de consertos rápidos de calçado, que pode complementar as lojas que já tem.
Com experiência dos dois lados da barricada – tanto em franchising, como por “conta própria” -, o empresário acredita ainda que o franchising tem benefícios, nomeadamente a nível da inovação. “Os royalties e os direitos de entrada são compensados em tecnologias e inovações todos os anos, que seriam muito difíceis de encontrar numa lavandaria tradicional. Ajudam-nos muito em muitas coisas. Se o franchising funcionar bem, compensa sempre.”
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